Repensando as Drogas

Plano federal de segurança pública não enfrenta causas e fracassará

 

31 de janeiro de 2025, 8h00

*Repensando a Guerra às Drogas
Grupo de integrantes da magistratura, Ministério Público, Defensoria Pública e advocacia.

O governo federal apresentou seu plano de segurança pública.

Envolve etapa de inteligência, para mapear o crime organizado, seguido da prisão dos líderes e retomada de territórios. Após isso, implementará medidas sociais nas áreas afetadas. É o 11º plano desde o governo FHC.

O plano segue a cartilha da Guerra às Drogas, tentar reduzir o consumo de drogas através de proibição, ações policiais, militares e de inteligência. É a tônica no Brasil desde a década de 1970.

Trata-se de dobrar a aposta em política que não produziu resultados positivos em nenhum lugar do mundo.

Fernando Frazão/Agência Brasil

Estudo da Rand Corporation, entidade de pesquisa ligada ao governo dos EUA, concluiu que medidas de inteligência, como grandes apreensões de drogas, vigilância e investigações são ineficazes para combater o tráfico, porque não conseguem fechar todas as rotas e não interferem significativamente na oferta e demanda e, portanto, no lucro. Isso para os Estados Unidos, país longe dos centros produtores de cocaína, com muito mais capacidade de enfrentamento e problemas sociais menos graves que o Brasil.

Proibir drogas, na verdade, garante ao crime organizado o monopólio desregulado de um mercado multibilionário. Enquanto esse mercado continuar legado à criminalidade haverá recursos para comprar armas, aliciar jovens, corromper agentes públicos e manter esse estado de guerra civil atual.

A Guerra às Drogas é ruim para a saúde pública. Dificulta tratamentos e pesquisas e não reduz o uso das drogas proibidas. A política mais adequada para reduzir o uso substâncias nocivas à saúde é a regulamentação restritiva, com taxação elevada, proibição de propaganda e educação da população. É a adotada no Brasil para o tabaco, com sucesso.

A Guerra às Drogas impacta desproporcionalmente pobres e negros. É uma política racista. Esses são a maioria dos condenados em processos com provas frágeis, sujeitados a violações de domicílio, buscas pessoais abusivas e tratados como inimigos sociais. É a maior causa de prisão de mulheres, usualmente aliciadas por seus companheiros, e de adolescentes, cuja mão de obra é explorada.

Com a desinformação reinante, tocar nesse assunto é impopular. Todavia, insistir no caminho atual e errado apenas ampliará o problema. O governo federal têm amplos recursos para corrigir os rumos da política criminal.

Drogas, em si, não causam crimes e são amplamente acessíveis atualmente.

A proibição de drogas, sim, gera crimes e fortalece o crime organizado.

Regulamentar restritivamente drogas reduz seu uso.

Ações violentas são ruins também para policiais.

Não alterar o rumo da Guerra às Drogas é o motivo de fracasso de todos os planos de segurança anteriores e, ao que tudo indica, o atual seguirá o mesmo caminho. Suplantar a Guerra às Drogas não é solução mágica, pois a violência têm múltiplas causas. Todavia, certamente reduzirá os recursos do crime organizado e permitirá uso mais racional das forças estatais, além de evitar os impactos negativos já mencionados.

A população, com toda a razão, quer melhorias na segurança. O previsível fracasso desse plano, mais uma vez, causará frustração e abrirá mais espaço para demagogos que apontam morte, tortura e barbárie como solução.

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