Opinião

O enfoque da economia sustentável no Fórum Econômico Mundial de 2025

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31 de janeiro de 2025, 17h24

O debate acerca de medidas que viabilizem o desenvolvimento sustentável dos estados configura-se em ascensão. A busca pelo crescimento dos países nos âmbitos ambiental, social, cultural, espacial e econômico depende da adoção de práticas sustentáveis capazes de suprir necessidades identificadas como inviabilizadoras ao seu desenvolvimento de médio e longo prazos.

Torna-se, portanto, relevante a compreensão das dimensões conceituais que constroem a ideia de desenvolvimento sustentável. O Relatório Brundtland, elaborado em 1983 pela Organização das Nações Unidas (ONU) [1], foi responsável por realizar a pioneira análise conceitual acerca do termo “desenvolvimento sustentável” através da fixação de diretrizes viáveis para alcançar a sustentabilidade econômica e social a nível global.

De acordo com o Relatório Brundtland, a ideia de desenvolvimento sustentável possui intrínseca relação com a preocupação intergeracional por parte dos estados. Ou seja, a adoção de práticas sustentáveis pelos países deve ser justificada pela persecução da equidade social entre gerações em relação ao justo acesso aos recursos e à distribuição de custos e benefícios, promovendo a manutenção de um estado de bem-estar social que beneficie a sociedade presente e se perpetue às gerações futuras.

No contexto atual, a ONU traçou 17 objetivos globais de desenvolvimento sustentável (ODS), com base nas necessidades primordiais de uma sociedade globalizada: erradicação da pobreza; erradicação da fome; saúde e bem-estar; educação de qualidade; igualdade de gênero; acesso à água potável e saneamento; energia acessível e limpa; trabalho decente e crescimento econômico; inovação e infraestrutura; redução das desigualdades sociais e econômicas; cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção responsáveis; ações contra a mudança global do clima; vida na água; vida terrestre; paz, justiça e instituições eficazes; e parcerias e meios de implementação. [2]

Agenda 2030

Esses objetivos foram incorporados à denominada “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” [3], elaborada no âmbito da Conferência Rio+20 e composta por metas e objetivos que devem ser perseguidos para a concretização do desenvolvimento sustentável nas esferas social, econômica e ambiental.

Na seara econômica, a preocupação com o desenvolvimento sustentável perpassa pela necessidade da adoção de práticas sustentáveis que proporcionem um cenário de estabilidade econômico-financeira de médio e longo prazos. Essa necessidade se justifica no fato de que a atual conjuntura econômica de um país possui o potencial de ocasionar diversos sintomas colaterais para o seu futuro, considerando que os efeitos das medidas econômicas e fiscais adotadas serão gradualmente revelados.

Spacca

Importante instrumento propulsor ao debate acerca do desenvolvimento sustentável na economia é a reunião anual do Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum — WEF). A cúpula deste ano, realizada entre os dias 20 e 25 de janeiro, em Davos, na Suíça, contou com a participação de diversos chefes de Estado e líderes governamentais para a construção de um efetivo diálogo acerca do tema “Colaboração para a Era Inteligente”.

Discursos envolvendo a necessidade de maior cooperação entre os países para o enfrentamento das crises econômicas, climáticas, ambientais e sociais demonstram a interação existente entre todas essas necessidades na busca pelo desenvolvimento sustentável. A Era Inteligente, pairada por diferentes graus de complexidade e ambivalência, requer dos Estados a percepção de que o desenvolvimento econômico se condiciona ao equilíbrio sustentável de todas as demais esferas de preocupação global.

Crescimento econômico com ideais de sustentabilidade

A opinião do setor da economia revela essa interação. Conforme pesquisa elaborada pelo Fórum Econômico Mundial, 65% dos principais economistas de empresas e organizações líderes em diversos setores da economia concordam que os formuladores de políticas públicas devem priorizar medidas que viabilizem o crescimento econômico e progresso nas metas fiscais, desde que em consonância com os ideais de coesão social, sustentabilidade ecológica, equidade econômica e segurança nacional. [4]

Assim, uma análise da conjuntura das finanças públicas deve levar em consideração aspectos que influenciam, positivamente ou negativamente, no crescimento econômico. O balanço mais recente realizado pelo Fundo Monetário Internacional (Internacional Monetary Fund — IMF), no âmbito do World Economic Outlook [5], estipula que o crescimento global possui a tendência de permanecer estável em 3,3%. A inflação, por sua vez, poderá cair para 4,2% neste ano e para 3,5% no ano de 2026. [6]

A viabilidade deste resultado, entretanto, somente torna-se possível mediante a conscientização do ideal cooperativo entre os Estados. Nas finanças públicas, a implementação de políticas sustentáveis que demonstrem efetividade nos resultados fiscais de médio e longo prazos requer do Estado e da sociedade a compreensão acerca do papel do orçamento público como um instrumento de equilíbrio global nas esferas econômica, ecológica e social [7].

Cenário econômico responsável e sustentável para o futuro

A adoção de medidas como a redução do déficit fiscal, a estabilização da dívida pública e a busca por políticas fiscais de combate à práticas de evasão fiscal são exemplos de instrumentos financeiros que contribuem para o crescimento econômico por meio da construção de um cenário econômico-financeiro responsável, equilibrado e sustentável para as gerações presentes e futuras.

É possível afirmar que a sustentabilidade financeira transcende as barreiras do tempo. Mais do que a busca pelo equilíbrio fiscal, a sustentabilidade financeira contribui para a ascensão de uma conjuntura justa à economia e à sociedade, capaz de reverberar os seus efeitos para as sociedades vindouras.

Dessa forma, a realidade de uma economia sustentável requer que se adote o ideal cooperativo como um alicerce econômico-financeiro, a fim de que se possa enxergar a sustentabilidade financeira como um efetivo instrumento estruturante de concretização da justiça social através do seu potencial de realização da equidade intergeracional.

 


[1] COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.

[2] NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Sobre o nosso trabalho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs.

[3] NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/91863-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustent%C3%A1vel.

[4] FOREIGN AFFAIRS. How to Get The Right Kind of Growth. Disponível em: https://www.foreignaffairs.com/how-get-right-kind-growth#.

[5] INTERNACIONAL MONETARY FUND. World Economic Outlook. Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-outlook-update-january-2025.

[6] WORLD ECONOMIC FORUM. Economic growth and finance at Davos 2025. Disponível em: https://www.weforum.org/stories/2025/01/reimagining-growth-theme-davos-2025/.

[7] NABAIS, José Casalta. Da sustentabilidade do Estado Fiscal. In: NABAIS, José Casalta; DA SILVA, Suzana Tavares (Coords.). Sustentabilidade fiscal em tempos de crise. Coimbra: Almedina, 2011. p. 24.

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