Tacitus e o Pinóquio do PCC: como lidar com personagens anônimos
8 de janeiro de 2025, 13h16
A nova onda na investigação do crime organizado agora é tentar adivinhar quem é Tacitus. Explico: alguém usando esse nome fictício enviou uma série de e-mails contendo informações sobre o PCC. Disse ainda que acompanhou a morte do delator Vinícius no Aeroporto de Guarulhos ao vivo pelo celular.
Convenientemente, trata-se de um e-mail sem origem determinada. Há quem o veja como um oráculo, e até jornalistas experientes caem na ladainha – afinal, no poente do ano, faltam notícias para abastecer colunas e reportagens.
Façamos uma análise usando critérios de inteligência, como faria um analista da área ou, mais precisamente, de lógica. O primeiro item é avaliar a fonte, se é conhecida ou desconhecida, se tem credibilidade, se aponta um fato ou argumento que garanta a veracidade de suas afirmações e que seja inédito. Algo para validar sua informação.
Neste caso, Tacitus afirma ter acompanhado a morte do delator por uma live. Espantoso, mas cadê a live? Gravou? Anexou? Arquivou? Nada! Então o ponto é negativo, perda de credibilidade.
Segundo item: a fonte tem acesso à informação que está repassando? A tal live ele sequer provou ter existido. Por outro lado, trouxe informações corretas, mas que não são novidades. Até mesmo os documentos da delação do falecido já transitaram pela imprensa. A esta altura do campeonato, não é nada que já não se soubesse.
Terceira opção: a informação pode ser confirmada por meio de outras fontes independentes? Quanto à live, núcleo do argumento de validade, não, até porque nunca foi apresentada. Quanto ao resto, é informação que já circulou antes, embora em meios mais restritos, e que não entrega nenhuma validade em especial.
Novo QAnon
Resumindo: até prova em contrário, esse Tacitus é uma grande enganação ou é alguém que pretende tirar proveito daquilo que o delator sabia e lhe garantia ganhos duvidosos, como as joias encontradas em seu poder no dia de sua morte.
Tacitus é ainda o nome de um historiador romano (maiores informações na Wikipedia), mas também se refere a algo que não foi expresso por palavras. O que temos até agora é uma espécie de QAnon, uma alegoria conspiratória, tão ao gosto conspiracionista. Mas, de concreto, nada. O dia em que “mano” do PCC falar em latim, cachorro vai miar em alemão.
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