Movimento ESG sofre resistência e precisa passar por mudanças
20 de fevereiro de 2025, 7h02
É impossível ignorar a onda anti-ESG (ambiental, social e governança) que tem se espalhado pelo mundo nos últimos anos. E não por acaso, os Estados Unidos, sempre um grande difusor de ideias e conceitos, têm sido o epicentro dessa resistência.
A reeleição de Donald Trump só intensificou esse movimento, levando gigantes como Walmart, Meta, Amazon e Google a recalcularem sua rota, afastando-se de políticas ESG para evitar retaliações e riscos financeiros.
Mas onde foi que o ESG errou?
Parte do problema está na sua comunicação. O conceito foi amplamente utilizado, mas muitas vezes sem critério, transformando-se em um termo vago, excessivamente politizado e, por consequência, alvo de resistência.
Leon Kamhi, diretor de responsabilidade da Federated Hermes Limited, chegou a sugerir que o termo deveria ser aposentado, tamanho o desgaste e a rejeição que sofreu entre investidores.
Politização nos EUA
Nos EUA, a politização do ESG atingiu em cheio a confiança de grandes gestores de ativos. Se em 2021 havia um entusiasmo quase incontestável por essa agenda, hoje o cenário é outro.
Pressionadas politicamente e receosas de comprometer seus resultados, muitas empresas passaram a recuar.
Mas, atenção: recuar não significa abandonar. O fenômeno do “greenhushing” — a prática de continuar investindo em sustentabilidade sem divulgar amplamente essas ações — reflete essa mudança estratégica.
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As empresas entenderam que, em um ambiente cada vez mais polarizado, falar menos pode significar preservar sua posição no mercado.
Defesa no Brasil
No Brasil, o ESG ainda encontra defensores de peso.
Gilson Finkelsztain, presidente da B3, reiterou o compromisso da Bolsa brasileira com diversidade, equidade e inclusão (DEI), além da agenda ESG, mesmo diante da maré contrária nos EUA.
Medidas concretas, como o Anexo ASG, que incentiva a inclusão de grupos subrepresentados nos conselhos de administração, mostram que, por aqui, a resistência ao ESG tem menos força.
Curiosamente, o Brasil pode até se beneficiar desse movimento anti-ESG nos EUA. Com vantagens naturais e estruturais, o país tem potencial para se tornar um polo global de economia verde.
O secretário do MDIC, Rodrigo Sobral Rollemberg, destaca setores promissores, como a produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), a recuperação de áreas degradadas e a atração de empresas em busca de energia limpa e barata.
Investimentos verdes
Na COP 30, o Brasil pretende se apresentar como o “paraíso dos investimentos verdes”, com iniciativas como o Plano Nacional de Bioeconomia e a Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial.
Mas sejamos francos: o ESG falhou em muitos aspectos, principalmente na forma como se comunicou.
O pilar social, por exemplo, foi engolido por discursos políticos e perdeu o foco empresarial. Empresas não são instituições de caridade, mas sim ambientes de alta performance, metas e cobranças.
ESG nunca deveria ter sido tratado como ativismo político. Ele é, acima de tudo, uma agenda de mercado baseada em estratégia e inovação.
A percepção equivocada de que diversidade compromete eficiência surgiu porque muitas empresas adotaram ESG como uma bandeira, sem estrutura real para implementá-lo de forma consistente.
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Algumas souberam transformar essa pauta em vantagem competitiva, identificando e desenvolvendo talentos diversos. Outras, no entanto, se limitaram ao discurso, sem sustentar ações de longo prazo. O resultado? Descrédito e resistência.
Transformação sem volta
Ainda assim, não há volta.
O ESG já foi incorporado a muitas empresas e, em diversos países, conta com respaldo legal.
O mercado financeiro foi um dos grandes responsáveis por impulsionar essa transformação, exigindo práticas de governança sólidas para que empresas ganhem escala e sustentem sua longevidade.
O pilar ambiental, por sua vez, continuará sendo central. À medida que a ciência avança, será cada vez mais fácil identificar com precisão quais empresas são as maiores poluidoras e responsabilizá-las.
Já o pilar social precisa amadurecer. Ele deve ser tratado com o mesmo rigor e alinhamento estratégico das demais áreas de um negócio.
Diversidade e produtividade não são conceitos antagônicos.
As empresas que conseguirem estruturar bem suas políticas internas sairão na frente, preparando-se para um futuro que, gostemos ou não, já chegou.
Os tempos mudaram. E o mercado, assim como a sociedade, precisa acompanhar essa transformação.
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