Opinião

Tarifaço e comércio exterior: Donald Trump contra o resto do mundo

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  • é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo doutor pela USP com especialização em Paris professor pesquisador convidado da Universidade de Heidelberg e autor de obras e artigos.

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6 de fevereiro de 2025, 7h08

O ano de 2025 começa de forma agitada, com as novas investidas do recém-eleito presidente dos Estados Unidos no propósito de consolidar a hegemonia e taxar mercados de blocos econômicos e diversos países. A primeira impressão que se tem é a de uma reconstrução da globalização, acompanhada da segmentação dos mercados no contexto de reformas e retornos compensatórios, com o objetivo de reduzir fronteiras, mas mantendo algumas barreiras comerciais.

RS/Fotos Públicas
Donald Trump assina decretos

México, Canadá e China foram os primeiros a serem taxados, mas já anunciaram que irão retaliar. Resta saber quais serão os efeitos colaterais dessas medidas, especialmente para o Brasil, que é extremamente dependente de tecnologia e da importação de produtos dos mercados externos. O comércio exterior enfrenta, como era de se esperar, grande preocupação, principalmente diante da possibilidade de ataques diretos aos blocos econômicos, como o Brics, o que poderia comprometer por completo a estratégia de garantir benefícios fiscais e tributários para as nações emergentes.

Muitas das medidas adotadas pelo governo de Donald Trump geram repercussões e um maior fechamento do bloco europeu. Há ainda a questão do interesse em dominar o Panamá, devido à relevância do canal, e explorar as riquezas naturais da Groenlândia. Tudo isso exige um mínimo de compromisso, antes de mais nada, com o encerramento das guerras no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia.

Esses fatores influenciam diretamente os novos tratados internacionais e a composição dos blocos de proteção, especialmente diante do fracasso do Mercosul em avançar em um acordo direto com o mercado europeu. Assim, cada nação, sem muitas opções, buscará estabelecer suas próprias metas, como já fez no passado o Chile e agora a Argentina, o que pode levar a uma maior fragmentação e a um progresso unilateral na distribuição dos produtos na balança de exportação e importação.

O Brasil, por sua vez, segue enfrentando desafios com a alta da inflação, impulsionada pelo câmbio e pelos preços dos insumos e das matérias-primas em geral. No entanto, o agronegócio demonstra grande potencial para conquistar novos mercados e se consolidar como motor do Produto Interno Bruto (PIB).

Trabalho da OMC contra tarifaço dos EUA

Sob o prisma internacional, questiona-se qual será o poder da Organização Mundial do Comércio (OMC) para conter os ataques tarifários dos EUA e impor limites às taxas que encarecem produtos e dificultam um comércio global equilibrado, sem retaliações imediatas. A OMC pode atuar como um mecanismo de controle para reorganizar o comércio exterior global, mas suas decisões dificilmente terão um impacto direto na política norte-americana de consolidar barreiras e estimular o aumento da instalação de empresas e indústrias em solo americano.

O mais preocupante é que as novas taxações afetam países vizinhos e estratégicos para a geopolítica norte-americana, que historicamente tiveram um papel crucial na construção de uma América do Norte unificada, apesar das recentes mudanças na política diretiva do México.

Spacca

Além disso, a Europa enfrenta uma crise econômica sem precedentes, especialmente na Alemanha, que apostou no fornecimento de energia russa e na parceria com a China, perdendo competitividade e influência econômica. O cenário político também passa por transformações não apenas na terra de Goethe, mas também na França.

Em suma, estamos diante de desafios políticos e econômicos interligados, compondo um novo ecossistema geopolítico global. No entanto, este é apenas o começo de um movimento no qual todas as nações precisarão se posicionar para evitar que a economia americana, avaliada em dezenas de trilhões de dólares, continue acumulando vantagens e privilégios, ao mesmo tempo em que o cenário de deportações cresce, afetando aqueles que não conseguem emprego ou condições mínimas de sobrevivência em diversas nações fragilizadas e socialmente excluídas.

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  • é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, doutor pela USP com especialização em Paris, professor pesquisador convidado da Universidade de Heidelberg e autor de obras e artigos.

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