OMISSÃO ESTATAL

MPF atua para que Brasil cumpra sentença no caso da chacina de Acari

 

2 de fevereiro de 2025, 14h21

O Ministério Público Federal instaurou procedimento para acompanhar o cumprimento de sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) que condenou o Brasil pela falta de investigação e punição dos responsáveis pela chacina do Acari, na zona norte do Rio de Janeiro.

MPF atua para que Brasil cumpra sentença no caso da chacina de Acari, no RJ

O caso envolveu o desaparecimento forçado de 11 jovens, em 1990, com indícios de participação de policiais militares. Também foram assassinadas, em 1993, a mãe e uma prima de uma das vítimas do desaparecimento, integrantes do grupo Mães de Acari, que haviam prestado depoimento sobre a participação de policiais no caso.

A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio determinou a instauração de procedimento para acompanhamento do cumprimento da sentença por parte do Estado brasileiro, com o objetivo de prevenir futuras violações de direitos humanos e a responsabilização internacional do país.

O MPF busca garantir que as seguintes medidas, previstas na decisão da Corte IDH, sejam tomadas pelo Estado brasileiro: continuação da investigação sobre o desaparecimento forçado dos jovens de Acari, incluindo a identificação e punição dos responsáveis e a busca pelo paradeiro das vítimas; oferecimento de apoio médico e psicológico às vítimas; reparação às famílias das vítimas, incluindo indenizações por danos materiais e imateriais, e a criação de um memorial em homenagem às vítimas no Bairro de Acari.

Outras obrigações

Além disso, a decisão determina que o Estado promova ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional em relação aos fatos e violações do caso; tipifique o crime de desaparecimento forçado; adeque seus protocolos de investigação de casos de violência policial, incorporando padrões internacionais e focando em gênero, infância e interseccionalidade; e elabore estudo sobre a atuação de milícias e grupos de extermínio no Rio de Janeiro, propondo medidas para combater essas organizações criminosas, entre outras medidas.

Para isso, além de publicar uma portaria para formalizar o procedimento administrativo, o MPF solicitou, ainda, informações ao Ministério das Relações Exteriores e ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania sobre o cronograma de cumprimento da sentença, especialmente quanto ao pagamento das indenizações.

À prefeitura e ao governo do estado do Rio de Janeiro, o MPF solicitou também informações sobre o cronograma da construção do memorial às vítimas. Já à Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro, foram pedidas informações sobre a adequação dos protocolos de investigação, bem como ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, estudos sobre milícias no estado.

A atuação do MPF também busca assegurar a transparência e a participação social no monitoramento das decisões do Supremo Tribunal Federalna ADPF 635, que também trata de questões relacionadas à violência policial.

O procurador Regional dos Direitos do Cidadão adjunto, Julio José Araujo Junior, ressalta que o MPF atua para prevenir futuras violações de direitos humanos e evitar que o Brasil seja responsabilizado internacionalmente.

“A gravidade do caso Acari, assim como os obstáculos enfrentados pelas Mães de Acari na busca por justiça, evidencia a importância de medidas que combatam a violência e a discriminação, revelando um histórico de negligência e tratamento discriminatório por parte do Estado”, destaca o procurador.

Sentença da Corte IDH

A sentença da Corte IDH condenou o Estado brasileiro pela falta de investigação e punição adequadas do desaparecimento forçado de 11 jovens em Acari, no Rio de Janeiro, em 1990, e pelos assassinatos de familiares das vítimas.

A decisão destaca a negligência estatal, a discriminação sofrida pelas famílias e a importância da reparação, incluindo investigações completas, um memorial às vítimas e indenizações. O texto também analisa o contexto de violência policial no Brasil, a atuação das milícias e o papel do Ministério Público na prevenção da responsabilidade internacional. Finalmente, propõe um procedimento administrativo para monitorar o cumprimento da sentença da Corte IDH. Com informações da assessoria do MPF.

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