Opinião

O que podemos aprender com o envelhecimento da população japonesa?

Autor

  • Sérgio Okamoto

    é médico especialista em Saúde Ocupacional e Superintendente Geral do Hospital Nipo-Brasileiro (HNipo) que foi fundado nos 80 anos da imigração japonesa no Brasil.

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9 de outubro de 2024, 20h56

A população mundial está envelhecendo, isso não é segredo para ninguém. De um lado, observa-se uma queda nas taxas de natalidade, enquanto, do outro, os avanços na qualidade de vida prolongam a longevidade das pessoas. Nesse contexto, diversas nações enfrentarão, em breve, um cenário em que a população acima dos 60 anos superará a quantidade de indivíduos em idade ativa, o que impõe grandes desafios econômicos e sociais para os governos e instituições. Um dos países que está enfrentando a situação é o Japão.

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Mundialmente, entre 1950 e 1965, a Taxa de Fecundidade Total (TFT) era em torno de 5 filhos por mulher. A partir de 1966, a taxa começou a diminuir até chegar a uma média de 2,73 filhos por mulher no ano 2000. Em 2023, a TFT era de 2,31 e a estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) é que, até 2055, essa proporção caia para 2,1 filhos por mulher. No Japão, a taxa está em queda há alguns anos e o governo divulgou que, em 2023, a taxa foi de 1,2 filho por mulher em idade fértil.

Ainda em relação ao país, o Japão é mundialmente reconhecido por sua longevidade. De acordo com o Índice de Qualidade de Vida da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a média de idade dos habitantes do Japão atinge os 84 anos, estabelecendo um recorde como a mais alta expectativa de vida global.

O Brasil se encaminha para o mesmo destino. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país conta com uma média de 1,94 filhos por mulher, estando abaixo do índice mundial. A pirâmide etária está se estreitando e o índice de envelhecimento disparou de 30,7 para 55,2 em pouco mais de dez anos, isso significa que há 55,2 idosos para cada criança de 0 a 14 anos. Muito disso é reflexo da expectativa de vida que está em alta e, segundo o IBGE, a média é de 75,5 anos no Brasil, portanto podemos esperar mais longevidade dos brasileiros nos próximos anos.

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Lições para o Brasil

O fato de termos pessoas mais longevas é extremamente positivo, pois demonstra que a saúde está evoluindo. Mas, o cenário carrega consigo alguns desafios, como menos pessoas economicamente ativas, mais idosos se aposentando, mais gastos do governo, maior necessidade de políticas públicas que atendam a essa população e queda no crescimento econômico.

Por isso, elenquei algumas soluções propostas e em andamento pelo governo japonês para propiciar um cenário estável, podendo servir de lição, positiva e negativa, para o Brasil e outros países que se encaminham para o mesmo destino.

  1. Incentivos para o nascimento de novos bebês. O governo tem tentado promover políticas mais favoráveis para mulheres com filhos e facilitar o equilíbrio entre trabalho e criação dos filhos, não apenas das mães, como também dos pais, que devem participar mais de perto do cuidado.

  2. Ampliar oportunidades no mercado de trabalho para mulheres, pois ainda há desigualdades no país. Assim, as mulheres conseguem mais estabilidade econômica e se sentem mais seguras para terem filhos. Além de proporcionar oportunidades de trabalho digna para profissionais de várias idades para redução de desigualdades e aumento do poder aquisitivo para que contribuam com o Kokumin Nenkin e Shakai Hoken, valores pagos para garantir a previdência social no Japão.

  3. Como acontece no Brasil, invariavelmente, são necessárias medidas que diminuam o valor dos benefícios e aumentem a idade mínima para se aposentar, que passou de 60 para 65 anos, proporcional ao aumento da expectativa de vida.

  4. Investir na saúde da população para que vivam mais anos saudáveis e independentes, sem necessitar de tantos cuidados do governo, da família ou de profissionais.

  5. Ainda na tentativa de melhorar a qualidade de vida dos idosos, existe a Lei sobre Seguro Assistencial de Longo Prazo, que levou à criação de um sistema que recolhe as contribuições dos trabalhadores para fornecer serviços médicos a idosos nos locais onde vivem. Os segurados pagam parte de seu tratamento.

Além de medidas de contenção, o principal cuidado que os países devem ter está relacionado ao planejamento. Desde cedo os governos devem se preocupar com a infraestrutura de seus países para serem adequadas aos idosos, garantindo que envelheçam com qualidade, considerando saúde, educação, transporte adequado e economia favorável, sem que os jovens fiquem responsáveis por arcar com todos os custos e a economia não fique desprevenida. E o papel da população é acompanhar atentamente o cenário e demandar por ações para o futuro.

Autores

  • é médico especialista em Saúde Ocupacional e Superintendente Geral do Hospital Nipo-Brasileiro (HNipo), que foi fundado nos 80 anos da imigração japonesa no Brasil.

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