população vulnerável

Ministros do STJ destacam papel da magistratura na proteção dos direitos dos idosos

 

3 de outubro de 2024, 20h15

“O envelhecimento, por si só, traz vulnerabilidades, as quais podem se agravar quando se sobrepõem a outras condições, como questões de gênero, raça, condições socioeconômicas e até mesmo deficiência física ou mental”, disse o diretor-geral da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam), ministro Benedito Gonçalves.

Benedito Gonçalves 2024

Diretor-geral da Enfam, ministro Benedito Gonçalves participou de evento no STJ

A fala foi dada durante a abertura do 1º Simpósio Pessoa Idosa e Justiça. O evento, organizado pelo Superior Tribunal de Justiça, em parceria com o mestrado da Enfam, ocorreu na terça-feira (1º/10), data em que foi comemorado o Dia Internacional da Pessoa Idosa.

Segundo Gonçalves, mulheres, negros e pessoas com deficiência são ainda mais afetados pelo envelhecimento porque enfrentam barreiras adicionais no exercício de direitos, devido à combinação de múltiplas formas de discriminação e desigualdade.

“É exatamente nesse ponto que entra a importância da Enfam. A formação continuada dos magistrados é essencial para que estejam preparados para aplicar a legislação vigente, como o Estatuto do Idoso, de maneira sensível às individualidades, garantindo uma abordagem que respeite as particularidades de cada indivíduo”, observou o magistrado.

Ao destacar o papel da escola na formação de membros da magistratura atentos a essas demandas, ele disse que os treinamentos não podem estar restritos à aplicação literal da lei, mas que é preciso considerar uma visão ética e humanista, entendendo de que forma raça, gênero e classe afetam a experiência do envelhecimento.

“A Enfam, como instituição de excelência na formação de magistrados, tem a responsabilidade de garantir que nossos juízes estejam prontos para esse desafio, promovendo a Justiça inclusiva e protegendo os direitos daqueles que mais precisam”, defendeu Benedito Gonçalves.

Herman Benjamin 2024

Herman Benjamin destacou que legislação de proteção deve ser atualizada

Tema fundamental

Presente na mesa de abertura do evento, o presidente do STJ, ministro Herman Benjamin, considerou a discussão sobre o tema fundamental não só para o Direito, mas para a humanidade, e ressaltou que a corte conta com vasta jurisprudência sobre direitos das pessoas idosas. “Nós temos boas leis, mas sem esquecer que essa legislação precisa ser permanentemente atualizada.”

Benjamin destacou temas como abuso e negligência no tratamento do idoso; exploração financeira dessas pessoas; guarda e capacidade legal; e habitação. “O etarismo não pode ser admitido no Estado de Direito. Não basta dar direito às pessoas idosas; as pessoas idosas têm de conhecer os seus direitos.”

O presidente do tribunal defendeu a criação de campanhas de educação de pessoas idosas, para que tenham um maior conhecimento sobre seus direitos assegurados pela Constituição e pelas leis, a fim de evitar violações.

O vice-presidente da corte, ministro Luis Felipe Salomão, observou que, como Tribunal da Cidadania, o STJ se preocupa em valorizar segmentos vulneráveis. “É um tribunal que se dedica ao exercício efetivo, à garantia dos direitos da cidadania, e um deles, e um dos mais fundamentais, é das populações mais vulneráveis, dentre elas as pessoas idosas. Por isso esse evento é marcante, simbólico, e necessário para sublinhar essa data dentro do Tribunal da Cidadania.”

Salomão apresentou dados demográficos sobre o aumento da população idosa no Brasil, que já alcança 10% dos habitantes do país, e informou sobre a publicação da última edição do “Jurisprudência em Teses”, que trata de direitos das pessoas idosas.

Ainda estiveram na mesa o presidente da Associação de Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Caio Marinho, e o procurador-geral da Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, que destacou a relevância de investir na formação de magistrados sobre esse assunto.

“Hoje é preciso dizer e reconhecer que conteúdo jurídico não basta, é necessário conteúdo socioemocional. E falar também sobre a importância das escolas na formação dos integrantes do sistema de Justiça — é fundamental para que nós tenhamos empatia, para que a gente se veja como idoso.”

Programação

O evento continuou com a apresentação de três painéis. O primeiro foi a conferência de abertura, que teve como palestrantes o professor doutor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Johannes Doll e a jornalista Lilian Liang, com moderação da ministra Nancy Andrighi, do STJ.

Em seguida, o tema em debate foi “A Proteção Integral à Pessoa Idosa e o Direito”, com exposições da desembargadora do TRF da 5ª Região Germana de Oliveira Moraes; do secretário nacional dos Direitos da Pessoa idosa, Alexandre da Silva; e do procurador regional da República e presidente do Comitê Nacional sobre a Pessoa Idosa e suas Interseccionalidades do Conselho Nacional de Justiça, Pablo Coutinho Barreto, com mediação do ministro do STJ Marco Buzzi.

Por fim, o painel “Acesso à Justiça e Inclusão Social da Pessoa Idosa” teve como palestrantes a procuradora regional da República e procuradora federal dos Direitos do Cidadão adjunta, Ana Padilha; a professora doutora da Universidade de São Paulo (USP) Bibiana Graeff; e a jornalista Hermínia Brandão, com moderação do ministro Sérgio Kukina, do STJ. Com informações da assessoria de imprensa da Enfam.

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