figura histórica e inspiradora

Entidade prepara agenda para 2025 e empossa membros à beira do túmulo de Luiz Gama

 

29 de novembro de 2024, 17h24

Com muitos projetos na agenda para advogados, acadêmicos e pesquisadores negros em 2025, a Sociedade Luiz Gama (SLG) – idealizada pelo advogado e pesquisador pós-doutorando do Instituto alemão Max Planck, Bruno Rodrigues de Lima – deu posse à diretoria da nova organização no dia 25 de agosto à beira do túmulo de Luiz Gonzaga Pinto da Gama, no cemitério da Consolação. O dia escolhido remeteu ao enterro de Gama, considerado o maior advogado, jurista e doutrinador negro e grande abolicionista do Brasil, que libertou na Justiça mais de 600 escravizados e cuja história vem sendo resgatada por inúmeras pesquisas e publicações, servindo de inspiração ao povo preto brasileiro.

Para Abílio Ferreira, coordenador geral da SLG, escritor e integrante do Coletivo Caminhada Luiz Gama, “a nova organização chega para valorizar e proteger o patrimônio cultural, material e imaterial representado pela existência de Luiz Gama”.

Entidade tem muitos projetos para advogados, acadêmicos e pesquisadores negros em 2025

Entidade tem muitos projetos para advogados, acadêmicos e pesquisadores negros em 2025

Morto em 24 de agosto de 1882, sem ter visto a Abolição da Escravidão – que só viria a acontecer em 1888 –, o cortejo fúnebre de Luiz Gama parou São Paulo. Atraiu uma multidão de cerca de 3 mil pessoas, que percorreu do Brás (onde morava) até o cemitério da Consolação. O enterro causou muita comoção popular porque Gama era conhecido por ser um advogado vencedor de causas difíceis. No enterro, o juramento emocionado que o jornalista e médico baiano Clímaco Barbosa fez à beira do túmulo teve grande repercussão. Ele convocou a multidão presente a jurar que não deixaria morrer os ideais de liberdade e igualdade de Gama.

Esse fato acabou gerando uma tradição que se mantém viva até hoje: a caminhada ao túmulo de Gama pelas gerações seguintes e juramento para celebrar Gama e promover suas bandeiras de justiça social no Brasil. Segundo Bruno Lima, o juramento tem grande simbolismo: “Gama jurou a causa da Abolição. As pessoas que juraram lá atrás ou as que juram hoje mantêm viva a causa de Luiz Gama. Juram, então, a própria Abolição”.

No dia 25 de agosto, toda a Diretoria da Sociedade Luiz Gama (SLG) e convidados repetiram a mesma caminhada simbólica a pé, da estação Brás da CPTM até o cemitério da Consolação. No túmulo de Gama, houve a encenação do juramento de Clímaco Barbosa, revisitado pelo ator Deo Garcez, caracterizado com roupas de época. Ao final, ele convocou todos os presentes a jurar: “Juramos não deixar morrer a ideia pela qual combateu o gigante Luiz Gama. Viva Luiz Gama”, declamou.

Depois de organizar e publicar as Obras Completas de Luiz Gama, Bruno Lima deixou no túmulo um exemplar de seu último livro Luiz Gama Contra o Império: a Luta pelo Direito no Brasil da Escravidão, lançado este ano e baseado em sua tese de doutorado defendida na Universidade de Frankfurt (Alemanha). Para Bruno, o pensamento de Luiz Gama ia além das fronteiras jurídicas e éticas, implicava na criação de um país mais democrático. “Gama era um intérprete do Brasil, onde tanto denunciou o papel do Estado na instituição da escravidão, quanto defendeu direitos civis e políticos de todos e todas”.

Luiz Gama nasceu em Salvador, em 1830, filho da africana liberta Luiza Mahin, da Costa da Mina, que foi presa e deportada de volta para a África por ter participado de insurreições de escravizados. Aos oito anos, Gama foi vendido pelo próprio pai (um fidalgo português) como escravo para pagar uma dívida. Embarcado no navio Saraiva, passou pelo cais do Valongo (Rio de Janeiro) e depois foi revendido para um negociante em São Paulo, onde viveu. Fugiu do cativeiro aos 18 anos e conquistou sua liberdade. Da amizade com o acadêmico da Faculdade do Largo São Francisco, Antônio Rodrigues Prado Junior, jovem branco que alfabetizou Gama, criou-se o contato com o Direito, área na qual construiu uma carreira sólida de advogado, utilizando teses jurídicas libertárias e originais, dentro de um Estado que instituiu a escravidão.

À beira do túmulo de Gama, todos os membros da primeira diretoria da SLG assinaram a ata de posse da diretoria, entidade constituída formalmente em assembleia anterior, ocorrida no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Entre os presentes à cerimônia, estava a professora Ligia Fonseca Ferreira, do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uma das mais importantes estudiosas de Luiz Gama, e José Adão de Oliveira, fundador do Movimento Negro Unificado, em 1978.

A Diretoria da SLG é composta por José Abílio Ferreira (coordenador geral), Elaine Aparecida Rodrigues (coordenadora administrativa), Hélio Martins de Lima (coordenador financeiro), Bruno Rodrigues de Lima (coordenador de pesquisa e formação), Thiago Gomes Marcílio (coordenador jurídico), Santamaria Nogueira Silveira (coordenadora de comunicação), Cristina Adelina de Assunção (coordenadora de educação), Max Muratório de Macedo (coordenador de cultura e artes) e José Adão de Oliveira (coordenador de movimentos sociais).

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