Conheça a procuradora-geral prometida para liderar o Departamento de Justiça de Trump
25 de novembro de 2024, 11h23
Até mesmo democratas reconhecem que, ao contrário de Matt Gaetz, que desistiu da indicação do presidente eleito Donald Trump para o cargo de procurador-geral dos EUA devido a alegações de má conduta sexual, uso de drogas, incompetência e inexperiência para exercer o cargo, Pam Bondi é uma profissional competente e experiente nos afazeres judiciários. Ela é a nova escolha de Trump para ocupar esse cargo.
Pam Bondi trabalhou por mais de 18 anos como promotora e procuradora. Em 2011, se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de procuradora-geral do estado da Flórida. Nessa função, seu desempenho mais notável foi o desmonte de um esquema de produção e distribuição de pílulas de opioide, que ficou conhecido como “pill mills”.
Além disso, Pam lutou contra o reconhecimento do casamento gay na Flórida e contra políticas públicas do governo Obama, entre as quais a consagrada na lei “Affordable Care Act”, mais conhecida como Obamacare, o seguro-saúde de quem não pode pagar uma seguradora privada.
Mas o que pesou mais em sua escolha não foi exatamente isso. Foi mais o fato de ela ser uma amiga leal de Trump, de longo tempo – e com um histórico impecável de fidelidade e subserviência à vontade e aos caprichos do ex-presidente.
Trump teve experiências “desagradáveis” com procuradores-gerais que nomeou em seu primeiro governo. Jeff Sessions, que exerceu o cargo de 2017 a 2018, autorizou a investigação de supostas interferências da Rússia para ajudar Trump a se eleger em 2016. Já Bill Barr, no cargo de 2019 a 2020, se negou a abrir investigações para produzir, ao final, um relatório declarando que as eleições de 2020 foram roubadas de Trump.
Servidora fiel
Diferentemente desses supostos “traidores” que causaram enorme frustração ao ex-presidente, Pam Bondi, que o conhece desde seus tempos de estudante, pois era amiga de dois de seus filhos, sempre esteve ao lado de Trump, para o que der e vier. Por exemplo:
- Já como procuradora-geral da Flórida, ela optou por não investigar denúncias de fraude contra a Trump University, apresentadas por alunos fraudados do estado; e se recusou a aderir a um processo semelhante movido em Nova York.
- Teve de se defender de alegações de que protegeu Trump, porque recebeu da fundação do ex-presidente uma doação de US$ 25 mil para seu comitê eleitoral.
- Apoiou Trump nas eleições primárias de 2016, apesar de um de seus concorrentes ser o senador Marco Rúbio, também da Flórida.
- Defendeu Trump no plenário do Senado, no julgamento do primeiro processo de impeachment do ex-presidente, em que acabou absolvido pelos senadores.
- Embarcou no bonde dos “negacionistas”, como são chamados os partidários de Trump que negam a vitória do presidente Joe Biden nas eleições de 2020; entrou decididamente na luta para tentar provar que as eleições de 2020 foram fraudadas pelos democratas.
- Esteve presente no julgamento em que Trump foi condenado por fraudes fiscais, para acobertar um pagamento de suborno a uma ex-atriz pornô, durante a campanha eleitoral de 2016, a fim de silenciá-la sobre um affair entre os dois.
- Diante dos processos movidos por procuradores federais e estaduais contra Trump, Pam Bondi disse em uma entrevista à Fox News que era preciso processar os autores dos processos – isto é, os procuradores; “The prosecutors will be prosecuted”, ela disse.
Essas “qualidades” de servidora fiel podem ser instrumentais para se cumprir uma promessa de Trump na campanha eleitoral: a de investigar e processar seus “inimigos” políticos, aqueles que atormentaram sua vida.
Estão na mira parlamentares que investigaram a invasão do Congresso em 6 de janeiro de 2021 e que aprovaram na Câmara dois processos de impeachment. Além deles, os procuradores estaduais e federais que transformaram a Justiça em uma arma contra ele – o que ele chama de “weaponization” do Departamento de Justiça.
Essa perspectiva de que Pam Bondi vai executar a promessa de retaliação anunciada por Trump levou alguns democratas a apelidá-la de “Ministra da Retribuição” (Minister of Retribution).
Testa de ferro
Não se sabe que caminho a nova procuradora-geral vai tomar. Mas espera-se que algumas medidas já estejam anotadas em sua agenda, a pedido do presidente eleito. A primeira delas é a de fazer os dois processos criminais contra Trump, na Justiça federal, desaparecerem. E depois ver o que pode fazer com os processos estaduais.
Outra medida possível, que também decorre de promessa de campanha de Trump, é desistir dos processos ainda em andamento na Justiça federal contra invasores do Congresso e preparar o perdão presidencial para aqueles que foram condenados e já cumprem pena de prisão.
Se houver um perdão em massa, indiscriminado, Trump vai fazer os casos, na Justiça, contra os invasores do Congresso em 6 de janeiro de 2021 desaparecerem – ou ficarem relegados apenas à história.
Trump ainda vai indicar ao Senado o nome de sua escolhida para o cargo de procuradora-geral dos EUA. Ao contrário de Gaetz, ela deverá ter votos suficientes do Partido Republicano para ser confirmada e nomeada por Trump quando ele assumir o cargo de presidente.
De qualquer forma, antes disso, ela terá de enfrentar uma sabatina dura no Senado. Os senadores democratas vão interrogá-la sobre seu comprometimento com as promessas de retaliação de Trump, perdão a criminosos condenados, suas decisões favoráveis a Trump no passado e outras ações que podem defini-la apenas como testa de ferro das iniciativas do presidente eleito.
Encontrou um erro? Avise nossa equipe!