Primeira baixa

Escolhido por Trump para procurador-geral dos EUA, Matt Gaetz renuncia

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21 de novembro de 2024, 21h42

Ainda em formação, a equipe arquitetada pelo presidente eleito Donald Trump para seu futuro governo já sofreu a primeira baixa, antes mesmo da indicação oficial: o ex-deputado Matt Gaetz, selecionado para o cargo de procurador-geral dos Estados Unidos, anunciou nesta quinta-feira (21/11) sua renúncia à “candidatura”.

Donald Trump em 2024.

Donald Trump sofreu a primeira baixa em sua nova equipe de governo

A renúncia de Gaetz aconteceu pouco tempo depois de reuniões de praxe com senadores para discutir o processo de confirmação de seu nome para o cargo. Aparentemente, as reuniões começaram bem, mas acabaram mal — isto é, alguns senadores deixaram claro que ele não teria votos suficientes para a confirmação.

Uma indicação dessa possibilidade veio do senador republicano John Neely Kennedy. Ele declarou que, quando um assessor lhe mostrou a mensagem de Gaetz no X (antigo Twitter) em que anunciou sua renúncia, ele achou que era notícia falsa e mandou checar.

Afinal, na reunião que teve com Gaetz, o ex-deputado se mostrou confiante, até mesmo entusiasmado, com a perspectiva de confirmação, depois de ter se reunido com outros senadores. Não dava para acreditar.

Outra indicação veio da voz republicana mais poderosa no Senado, a do líder da atual minoria na casa (que será maioria em 2025), Mitch McConnell , sobre a desistência de Gaetz: “Penso que foi muito apropriada”, ele disse, sem mais comentários.

Uma fonte protegida por anonimato por fazer parte do círculo mais próximo de Trump disse ao jornal Washington Post que se espalhou uma crença generalizada de que Gaetz não teria os votos necessários para o Senado autorizar sua nomeação para o cargo de procurador-geral.

Corda bamba

A escolha de Gaetz para o cargo foi certamente a mais controvertida do presidente eleito Donald Trump. Ele sempre esteve na corda bamba, por diversos motivos. Um deles é que Gaetz não tem a experiência necessária para exercer o cargo.

Ele nunca foi promotor ou procurador, e exerceu a advocacia por um período muito curto. Mal conhece o funcionamento da Justiça. Gaetz abandonou o Direito muito cedo para se dedicar à carreira política — muito bem-sucedida, por sinal. Ele seria apenas um instrumento político, nas mãos de Trump, no comando do Departamento de Justiça (DOJ) dos EUA.

Gaetz também angariou adversários (em alguns casos, inimigos) no Congresso. Uma das razões foi a sua iniciativa, considerada “golpe” por alguns congressistas, para destituir Kevin McCarthy do cargo de presidente da Câmara, em outubro de 2023. Ele foi tachado de traidor do partido. Outra foi propor um perdão para os invasores do Congresso em 6 de janeiro de 2021.

Havia, porém, razões mais difíceis para alguns senadores republicanos engolirem a indicação de Gaetz: alguns maus antecedentes, que sujaram a ficha do então deputado federal. O Partido Republicano, que gosta de se denominar “o partido da lei e da ordem”, ficou entre a cruz e a espada: respeitar a lei e a ordem ou se subjugar à vontade e aos caprichos de Trump.

Gaetz foi investigado pelo Departamento da Justiça e pelo Comitê de Ética da Câmara por alguns supostos escândalos. O mais grave se refere a tráfico sexual de uma menor de idade (crime grave nos EUA). Mas há também alegações de pagamento a duas mulheres por sexo — uma delas, a mesma menor, e outra, com mais de 18 anos. Ambas prestaram depoimento no comitê de ética e confirmaram as denúncias.

Mais do que isso, há alegações de festas regadas a drogas, relacionadas às aventuras sexuais do ex-deputado. E outros fatos ilícitos, tais como aceitação inapropriada de presentes para um parlamentar, prestação de favores especiais a contatos pessoais e tentativas de obstrução de investigações governamentais contra ele.

Em sua mensagem de desistência publicada no X, Gaetz escreveu: “Eu tive reuniões excelentes com senadores. Agradeço o feedback atencioso deles, bem como o apoio de muitos”. E acrescentou: “Embora o ímpeto tenha sido forte, está claro que minha confirmação estava se tornando injustamente uma distração para o trabalho crítico da transição Trump/Vance. Não há tempo a perder com uma briga desnecessariamente prolongada em Washington, portanto retirarei meu nome da consideração para servir como procurador-geral”.

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