Opinião

A promessa de Trump por 'dias melhores' via modelo econômico protecionista

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  • é jornalista e vice-presidente da Câmara de Industria Comércio e Turismo Brasil México. Foi candidato a governador de São Paulo e porta-voz nacional da Cruz Vermelha Brasileira.

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7 de novembro de 2024, 13h22

Na eleição presidencial dos Estados Unidos, Donald Trump voltou à Casa Branca após vencer Kamala Harris e reacendendo o discurso de políticas que marcaram seu primeiro mandato.

Com uma boa vantagem no colégio eleitoral e no voto popular, o republicano já deu sinais claros de que seu foco estará na economia, enfatizando a reindustrialização do país, o corte de impostos corporativos e incentivos à produção nacional.

Essas políticas são vistas como um esforço para corrigir o que ele e seus apoiadores consideram os erros da globalização, que teriam afetado a competitividade americana e gerado dependência de outras nações, especialmente a China.

Ao sinalizar um modelo econômico mais protecionista, Trump busca garantir que os empregos permaneçam em solo americano, o que se traduz em apoio entre trabalhadores industriais e comunidades afetadas pela automação e pela transferência de fábricas para o exterior.

A perspectiva de uma “era dourada” com Trump na presidência, para muitos americanos, representa uma promessa de estabilidade econômica, melhores salários e incentivos para pequenas e médias empresas.

No entanto, essa postura protecionista pode trazer desafios para o comércio exterior, especialmente para países parceiros como o Brasil. Exportações brasileiras de commodities, como aço, soja e carne, podem ser diretamente afetadas pelas novas políticas tarifárias americanas.

Durante o primeiro mandato de Trump, houve aumento de tarifas sobre o aço brasileiro, e com sua reeleição, pode haver uma renovação ou intensificação dessas barreiras, caso as políticas de proteção à indústria nacional se tornem prioritárias. Esse cenário pode levar o Brasil a buscar alternativas de mercados para escoar seus produtos ou adaptar-se às exigências do novo governo americano para manter-se competitivo.

Para o Brasil, a vitória de Trump representa um cenário desafiador, mas também de oportunidades em setores específicos. A forte demanda americana por commodities, uma das principais exportações brasileiras, ainda poderá servir como ponto de cooperação, embora sujeito a políticas de cotas e regulamentações tarifárias.

Além disso, Trump pode estabelecer acordos pontuais em setores onde vê benefícios econômicos mútuos, como o agronegócio e energia, o que poderia trazer avanços em temas como segurança alimentar e estabilidade das cadeias de suprimentos.

Mundo jurídico

No contexto da visão jurídica mundial, o retorno de Trump também reabre debates sobre a democracia e o estado de direito nos Estados Unidos. A recente nomeação de juízes conservadores para a Suprema Corte americana, consolidando uma maioria de direita, gera preocupações entre líderes e analistas globais sobre a possibilidade de mudanças significativas em direitos e liberdades civis, temas de grande relevância para a democracia.

Em paralelo, a postura de Trump, que frequentemente desafia normas e tradições democráticas, levanta questões sobre o futuro da democracia nos Estados Unidos e seu impacto mundial, dado o peso da influência americana.

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Donald Trump

Para muitos juristas e especialistas em relações internacionais, essa guinada americana tem potencial para influenciar juridicamente outras nações. Países em desenvolvimento como o Brasil podem observar efeitos indiretos, seja por meio de alterações na política comercial e ambiental ou pela pressão internacional em temas de direitos humanos e governança.

A perspectiva de um governo dos EUA com uma forte orientação de direita poderá inspirar políticas semelhantes em outras partes do mundo, afetando as interpretações jurídicas em torno de questões como imigração, direitos de minorias e liberdade de expressão.

O impacto global do retorno de Trump deve ser observado com cautela. Suas promessas de endurecimento nas negociações com a China podem intensificar disputas comerciais, afetando mercados de insumos e produtos tecnológicos — cruciais para a indústria brasileira.

Energia

Já os planos de incentivo à energia fóssil e a possível redução dos compromissos ambientais podem influenciar o comércio internacional em áreas como biocombustíveis, uma das exportações brasileiras para os Estados Unidos.

A postura menos rígida de Trump em relação ao meio ambiente poderá influenciar as políticas ambientais de países parceiros, flexibilizando compromissos de transição energética e abrindo espaço para um relacionamento estratégico em energia e mineração.

Trump retorna em um momento de divisões políticas profundas nos Estados Unidos. Com a promessa de unir o país, ele expressou em seu discurso o desejo de “curar a nação”. Contudo, sua retórica polarizadora e polêmicas sobre imigração indicam que o caminho para uma “era dourada” ainda enfrenta obstáculos, e a polarização continuará a moldar a sociedade americana.

Para o Brasil, será crucial observar como o governo Bolsonaro ou seu sucessor poderão mitigar ou potencializar os efeitos das novas diretrizes econômicas e diplomáticas de Trump, ajustando a relação bilateral para evitar impactos negativos e tirar proveito de eventuais benefícios.

Em síntese, o retorno de Trump marca um novo capítulo na política americana e traz implicações que repercutirão no cenário doméstico e internacional. A promessa de prosperidade contrasta com os desafios econômicos e sociais que o país e seus parceiros, como o Brasil, enfrentarão.

A abordagem de Trump reforça a complexidade de seu mandato e deixa o questionamento de como essa nova administração responderá aos desafios contemporâneos, incluindo o respeito aos interesses dos parceiros comerciais e a defesa dos pilares democráticos em um cenário global de transformações.

Autores

  • é presidente do Minha Escola é o Canal, projeto da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, graduado em Jornalismo e Relações Públicas, vice-presidente da TV Aberta de São Paulo, integrante na OAB-SP nas Comissões de Cidadania e Formação Política, Governança e Integridade e Infraestrutura, Logística e Desenvolvimento Sustentável e pós-graduando em Gestão Pública pela UniDrummond. Foi candidato ao governo de São Paulo em 2014.

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