CENÁRIO RENOVADO

Nova ordem mundial e reindustrialização permeiam discussão sobre conflitos

 

26 de junho de 2024, 15h43

Os atuais conflitos territoriais, em especial os que envolvem a Faixa de Gaza, Israel, Ucrânia e Rússia, lançaram novos desafios para os estudiosos da geopolítica: a ordem mundial estabelecida pela criação da Organização das Nações Unidas no contexto do pós-guerra dá sinais de enfraquecimento, assim como o modelo de globalização comercial estabelecido após os anos 1980.

Painel sobre tensões na Europa e no Oriente Médio reúne especialistas no XII Fórum de Lisboa, em 2024

Painel sobre tensões na Europa e no Oriente Médio reúne especialistas

Essa foi uma das perspectivas discutidas no XII Fórum de Lisboa, na mesa intitulada “Tensões na Europa, no Oriente Médio e na América Latina Os Impactos Econômicos e Geopolíticos”, mediada pelo chefe de gabinete no Supremo Tribunal Federal e professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), Eduardo Granzotto.

“O uso da força no âmbito internacional traz desafios não só para o Direito Internacional, mas também para a economia cada vez mais globalizada. Traz desafios também para o jogo de poder da geopolítica, exigindo respostas firmes de organismos internacionais”, disse Granzotto antes de chamar os primeiros debatedores.

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Arthur Lira e Gilmar Mendes entre os participantes da mesa de abertura do XII Fórum de Lisboa
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Autoridades do Judiciário, Executivo e Legislativo marcaram presença no XII Fórum de Lisboa, em 2024
Autoridades do Judiciário, Executivo e Legislativo marcaram presença no XII Fórum de Lisboa
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Plateia do primeiro dia do XII Fórum Jurídico de Lisboa de 2024
Plateia do primeiro dia do XII Fórum Jurídico de Lisboa de 2024
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Autoridades políticas de Portugal e Brasil abrem programação do XII Fórum de Lisboa em 2024
Autoridades políticas de Portugal e Brasil abrem programação do XII Fórum de Lisboa
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Plateia do primeiro dia do XII Fórum Jurídico de Lisboa de 2024
Reprodução/Fórum de Lisboa
Rebeca Grynspan e Gilmar Mendes em painel sobre a
Rebeca Grynspan e Gilmar Mendes em painel sobre a "Encruzilhada do comércio global: em busca da integração norte-sul"
Reprodução/Fórum de Lisboa
Painel sobre tensões na Europa e no Oriente Médio reúne especialistas no XII Fórum de Lisboa, em 2024
Painel sobre tensões na Europa e no Oriente Médio reúne especialistas
Reprodução/Fórum de Lisboa
Painel com autoridades brasileiras e portuguesas debate infraestrutura na economia global no XII Fórum de Lisboa, em 2024
Painel com autoridades brasileiras e portuguesas debate infraestrutura na economia global
Reprodução/Fórum de Lisboa
Painel sobre responsabilidade social analisa papel dos setores público e privado no XII Fórum de Lisboa, em 2024
Painel sobre responsabilidade social analisa papel dos setores público e privado
Reprodução
Mesa "O Governo de Coalizão e os Desafios das Políticas Públicas" na 12ª edição do Fórum Jurídico de Lisboa
Reprodução/YouTube
Painel sobre infraestrutura no XII Fórum Jurídico de Lisboa, em 2024

A pauta do debate transitou entre as necessidades de uma nova ordem mundial, tendo em vista a falência de determinados mecanismos de controle de órgãos multilaterais, e as lacunas econômicas expostas com a pandemia de Covid-19, que mostraram a dependência industrial dos países ocidentais.

“A palavra de ordem do momento é a reindustrialização do chamado mundo ocidental, combatendo as fragilidades que foram identificadas durante a Covid-19, onde se identificou que as máscaras e os respiradores eram fabricados fora desse mundo ocidental”, disse Agostinho Costa, major-general de Portugal e mestre em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa.

“Como fator agravante entramos em uma antagonização com a China, que para a UE passou a ser um parceiro comercial.”

Ele citou que, hoje, as guerras transbordam questões meramente territoriais, e que há sempre de se olhar para estes conflitos também com a perspectiva econômica. “Os recursos minerais da Ucrânia somam US$ 3 trilhões, sendo que metade deste território está em poder dos russos. Este conflito também é sobre ‘follow the money‘”, como dizem.

Ainda sobre a Ucrânia, sentenciou: “O conflito da Ucrânia será o principal catalisador da mudança, terá um impacto na União Europeia. Poderá traduzir um colapso nas instituições.”

Comunicação é tudo

O professor de Estudos Brasileiros da King’s College London, Vinicius Carvalho, afirmou que um dos pontos que mais se alteraram desde a Segunda Guerra Mundial foi a velocidade da comunicação, e que isso transformou a forma como enxergamos os conflitos.

“No contexto que nós vivemos hoje, em um contexto de globalização, é muito difícil separar isso. Os conflitos estão interligados, e é impossível tratar de um independentemente do outro”, disse.

“Se pusermos em perspectiva o que foi a Segunda Guerra em termos de comunicação e mobilização, forças e tropas e etc, o tempo é hoje muito mais rápido. A capacidade de comunicação é imediata, tudo isso levou a uma dinâmica desses conflitos se tornarem mais rápidos neste desenrolar e com consequências em um aspecto mais amplo, socialmente falando.”

Ele disse que houve uma intensificação da globalização em certos aspectos, e que isso agravou determinados conflitos. “Não é porque houve redução da globalização, mas a verdade é que a gente acentuou isso para um nível muito maior. Consequentemente, essas tensões se agravam também.”

O professor da Universidade Autônoma de Lisboa e ex-secretário-geral do Partido Socialista de Portugal, António José Seguro, disse que esse contexto de mudanças nas estruturas econômicas globais fez com que autocracias ganhassem força, tendo em vista que esses regimes perceberam que não precisariam se adequar a valores democráticos e de direitos humanos para se desenvolver.

“As autocracias descobriram que não precisavam se transformar em democracias para cresceram economicamente”, disse.

“O desempenho da China confirma o que acabamos de afirmar, aparentemente o fator explicativo do crescimento econômico parece estar mais associado à estabilidade política e à qualidade dos governantes, e menos à natureza dos regimes políticos. Está é uma das razões que explicam um certa queda do prestígio do regime democrático e a sua capacidade de alteração na escala global.”

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