Opinião

Relações Portugal/Brasil: a importância do Fórum de Lisboa

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  • Vitalino Canas

    é professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa presidente do Fórum de Integração Brasil Europa e advogado.

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16 de julho de 2024, 9h22

Pode medir-se a importância e impacto dos eventos acadêmicos, sociais, políticos, artísticos, pela qualidade e relevância dos seus resultados e pelo número de reações, positivas e negativas, que eles suscitam. Um evento invisível, sem chama, metido numa catacumba, não suscita qualquer tipo de reação, nem elogiosa, nem crítica.

ConJur
Auditório da reitoria da faculdade lisboeta ficou repleto no último dia do XII Fórum Jurídico de Lisboa

O XII Fórum de Lisboa, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa nos dias 26 a 28 de junho, atingiu níveis elevados em cada um desses dois critérios. Houve centenas de notícias, artigos de opinião, reportagens, entrevistas, apontamentos em dezenas de órgãos dos mídia portugueses e brasileiros. Neles incluem-se algumas opiniões negativas (embora não muitas, em termos relativos).

As opiniões negativas normalmente provêm de quem não foi convidado, mas gostaria de ter sido; mas também de quem não foi convidado e não gostaria de ter sido. Nesta segunda classe há três categorias: a daqueles que não gostariam de ter sido convidados por nada terem para dizer; a daqueles que usam o nome do Fórum simplesmente para fazer combate político; e o daqueles que entendem que o evento não é útil, não tem interesse ou não é um bom local para se falar de coisas sérias.

É a esta última categoria que este texto se dirige. O intuito é demonstrar que estão errados

Na perspectiva dos organizadores ou dos participantes portugueses — que é a minha — o Fórum tem caminhado a passos largos para ser um dos maiores eventos de debate e gestação de pensamento organizados pela Academia portuguesa, em parceria com prestigiadas instituições brasileiras. Começou por ser um Fórum Jurídico, mas há muito que se tornou multidisciplinar.

O Fórum de Lisboa não é apenas um veículo privilegiado para o conhecimento mútuo do que melhor fazemos nos nossos países, desde o Direito à criação acadêmica nos vários domínios, do empreendedorismo ao desenvolvimento científico e tecnológico, da transição energética à proteção ambiental, do desenvolvimento agroindustrial à inteligência artificial aplicada e generativa.

É também um veículo para, de forma livre, sair “da caixa”, libertando-nos das amarras institucionais a que muitas vezes nos sentimos constrangidos quando estamos no nosso ambiente profissional e funcional.

Para Portugal e para os portugueses (acadêmicos, investigadores, pensadores, empresários, políticos), o Fórum é um modo de, concentradamente, em três dias, terem acesso a uma multidão de brasileiros (e de personalidades de outras nacionalidades) das suas áreas de interesse que não conseguiriam obter nem em 100 viagens ao Brasil.

Creio ser desejo dos portugueses e dos brasileiros com visão estratégica que se processe uma crescente integração entre o Brasil e a Europa — com Portugal à cabeça —, por um número incomensurável de motivos. O Fórum de Lisboa, lançado há quase duas décadas por Carlos Blanco de Morais e Gilmar Ferreira Mendes, já fez — e vai continuar a fazer — mais por isso do que muitas cimeiras de alto nível.

Houve uma insinuação em algumas publicações: o Fórum serviria para quem intenta fazer lobby a favor de alguma coisa encontrar um espaço para contacto privilegiado com os decisores de qualquer setor.

Conheço relativamente bem o Brasil e muitos brasileiros. Nunca encontrei nenhum, de qualquer estrato, grupo, ou ocupação, que fizesse estilo de vida ficar fechado em casa ou que recusasse o contacto social nos milhões de ocasiões em que o possa ter. A ideia de que alguém necessita de vir a Lisboa para fazer lobby, deixa-me perplexo.

*artigo publicado originalmente no jornal português Diário de Notícias

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