Criminal Player

Pesquise jurisprudência com IA: conversando com ministros do STJ e professores

Autores

  • é advogado doutor em Direito Processual Penal professor titular no Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Ciências Criminais da PUC-RS e autor de diversas obras publicadas pela Editora Saraiva Educação.

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  • é juiz de Direito de 2º grau do TJ-SC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) e doutor em Direito e professor da Univali (Universidade do Vale do Itajaí).

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20 de dezembro de 2024, 9h23

A grande novidade da nossa geração foi o acesso à jurisprudência diretamente nos sites dos tribunais. As primeiras experiências de “simplesmente digitar as palavras-chave” e encontrar diretamente julgados conferiu imensa vantagem competitiva. Antes, os mais novos talvez não saibam, precisávamos pesquisar em repositórios impressos e parciais de julgados que, com sorte, estavam no mínimo seis meses atrasados. A nova geração acompanha online os julgamentos, com votos disponibilizados em tempo real, seguidos de acórdãos publicados, muitas vezes, no mesmo dia. Essa realidade era impensável para nós.

Spacca

Além do acesso à jurisprudência atualizada, no entanto, a troca de ideias entre os profissionais do Direito sempre ampliou os horizontes da aprendizagem, especialmente com os mais experientes. Na condição de professores de processo penal decidimos criar o “podcast Criminal Player” que depois virou esta coluna na ConJur e, mais recentemente a comunidade “Criminal Player“.

Alexandre começou a pesquisar sobre inteligência artificial desde 2015 na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), produzindo textos e livros relacionados à implementação de agentes inteligentes no Direito. No ano de 2020, em parceria com Daniel Henrique Arruda Boing, lançou o livro com “Ensinando um robô a julgar” (Emais editora, 2020 aqui). Aury sempre teve um pé atrás, embora sempre estivesse aberto às discussões com Alexandre. E foram muitas conversas.

Daniel e Alexandre escreveram antes do impacto da IA Generativa no Direito (vale ler o livro de Fábio Porto, Válter Araújo e Anderson de Paiva Gabriel aqui), baseada na arquitetura transformers, que funciona como um sofisticado sistema de previsão de texto (prediz qual o próximo token), a partir de “mecanismos de atenção” utilizados para processar e entender o contexto de cada palavra em uma sequência (“espaço de embedding”;  “janela de contexto” etc.).

Ferramentas

Com os novos avanços, em 2024 Aury se rendeu. Não porque Alexandre tenha conseguido a sua “captura psíquica”, mas porque o time da comunidade Criminal Player (André Necchio, Daniel Necchio, Thiago Schutz e Alexandre) apresentaram duas ferramentas, diz Aury, “assustadoras” (preferimos “dourar” o termo usado por Aury; quem o conhece, não precisa de IA para “saber” qual foi).

A primeira delas representa “instâncias” de “experts” da comunidade e da editora Emais (parceira no projeto), ou seja, um modelo de IA baseado exclusivamente no material produzido por cada autor, no caso Aury, Alexandre, Gabriel Bulhões, André Bermudez, Denis Sampaio e Yuri Felix (em breve outros), que simula aspectos específicos de cada um deles, como o estilo de comunicação, conhecimento, habilidades e experiências “sobre” Direito e Processo Penal.

Spacca

Ao contrário dos grandes modelos de linguagem (GPTs; Copilot; Lhama; Mistral; Gemini; Claude; Maritaca etc.), o modelo Criminal Player adotou arquitetura diferente e reduzida quanto à “base de conhecimento” utilizada para “treinamento” do modelo, restrita aos escritos dos autores (garantia de origem; fontes robustas), com entregas mais precisas, até porque o “overfitting” (sobreajuste) do modelo, para nossos propósitos, é bem-vindo (usamos técnicas de treinamento e validação complementares).

Em vez de Large Language Model (LLM), implementou-se Small Language Model (Small LM), favorecendo a construção de modelo menor (com menos parâmetros) e mais acurado. Ainda que na versão “Beta”, está sendo utilizada pelos membros da comunidade. A advogada e player Márcia Erias contou no encontro de quarta passada (18/12/2024) que a instância do Aury respondeu diversas questões práticas sobre um caso concreto que estava analisando de maneira rápida e objetiva, sem que precisasse abrir o livro Direito Processual Penal, embora tenha conferido depois, com sucesso, na versão impressa. A seguir algumas das instâncias de experts. Mas a mais legal, para nós, “cringes” na pesquisa de jurisprudência, está na segunda novidade.

Considere que a pesquisa de jurisprudência tradicional é como procurar uma agulha em um palheiro, onde você precisa vasculhar manualmente cada pedaço de feno (ou palavra-chave) para encontrar o que procura. Se você não sabe usar os “conectores”, o banco de dados devolve “dezenas”, “centenas” ou “milhares” de julgados.

Pensando em resolver essa “dor” dos profissionais do Direito, o time do “Criminal Player” baixou até hoje 157.013 acórdãos dos ministros do Superior Tribunal de Justiça dos últimos dez anos, criando uma “instância” para cada ministro, isto é, a possibilidade de pesquisar de modo inteligente a partir de uma base de conhecimento composta exclusivamente por seus votos, acrescidas de ajustes na “temperatura” (quanto mais baixa, mais precisa) e do “Top P” (núcleo da amostragem).

Em consequência, o modelo “Criminal Player” funciona como um “detetive” que trabalha junto com você de modo colaborativo poque não só conhece o “palheiro” de “cor e salteado”, como também tem um “mapa” detalhado e atualizado dos julgados, contando, ainda com a curadoria (supervisão) de especialistas (bases de conhecimento curadas por membros da comunidade).

Para usarmos uma analogia, o modelo Criminal Player opera como um “detetive” que usa uma lanterna de alta precisão (IA com temperatura baixa) para iluminar exatamente onde a agulha (julgado) está, economizando tempo e energia cognitiva, ao mesmo tempo que conduz o usuário até encontrar a jurisprudência mais relevante e precisa ao caso.

Acrescentou-se, ainda, uma camada orientada à indicação do número do julgado, em geral com o link para consulta, justamente para mitigar os riscos de “alucinação” típicos da IA Generativa. O mais legal é que a cada dia, com novos usuários e feedbacks, o modelo fica mais inteligente, produzindo entregas cada vez melhores.

Trabalho auxiliar

O ministro Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, nesta semana, anunciou o uso de modelos de IA. Segundo a ConJur o “Módulo de Apoio para Redação com Inteligência Artificial (Maria) reúne diversas funcionalidades com o objetivo de tornar mais ágil a redação de textos no tribunal”.

Diz a notícia que no “primeiro momento, a ferramenta contará com três funcionalidades: elaboração de resumos de votos, elaboração de relatórios em processos recursais e análise inicial de processos da classe reclamações (RCLs). Todas elas foram pensadas para auxiliar o trabalho de ministros, servidores e colaboradores no âmbito da corte”. O futuro já chegou.

Do mesmo modo que o “objetivo da Maria não é substituir pessoas, mas auxiliar o trabalho no STF”, como já fazia o modelo Victor (sob coordenação do professor Fabiano Hartmann da UnB), os modelos de IA do Criminal Player buscam auxiliar o trabalho diário, fornecendo fontes confiáveis e interação na forma de “chat” com “instâncias” dos “experts” e dos “ministros” para que o usuário otimize as tarefas diárias associadas à resolução de caso penal concreto.

Os assistentes virtuais personalizados enriquecem a experiência humana e ampliam a interação por meio da presença direta de uma “persona” digital.

O modelo Criminal Player é ampliado todos os dias com novas decisões, atualmente por meio da inserção das “decisões monocráticas” (mais de um milhão de documentos), com refinamentos incrementais constantes. Logo em breve o Criminal Player lançará também modelos do Supremo Tribunal Federal e de Tribunais Regionais e Estaduais, além de modelos de outros experts e sobre “temas” relevantes (Lei de Drogas; Lavagem de Dinheiro; Violência Doméstica etc.).

Nesse mundo de novidades, a vocação tecnológica da comunidade Criminal Player (parcerias com a Lawtta; Criaai.app.br; ichase.forensics; Verifact; dentre outros) é a de promover entregas que melhorem o desempenho na atividade profissional e representem “vantagem competitiva”.

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PS.1. Se você quiser testar os modelos de Inteligência Artificial, entre no site da comunidade site da comunidade, faça o cadastro e solicite gratuitamente o teste por sete dias no fone 48 9146-4809, pelo WhatsApp (aqui) ou Instagram @criminalplayer. Aproveite para conferir o acervo de mais de quinze mil artigos, textos, aulas, grupos de discussão e muito mais (você pode usar gratuitamente como visitante).

P.S.2. Dia 23/12/2024, às 20 horas, nós (Aury e Alexandre) estaremos no Instagram (@aurylopesjr; @alexandremoraisdarosa; @criminalplayer) falando sobre essas e outras novidades para 2025. Por enquanto, seremos nós, não nossas instâncias (logo elas terão áudio e vídeo também). Você está convidado.

Autores

  • é advogado, doutor em Direito Processual Penal, professor titular no Programa de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, em Ciências Criminais da PUC-RS e autor de diversas obras publicadas pela Editora Saraiva Educação.

  • é juiz de Direito de 2º grau do TJ-SC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) e doutor em Direito e professor da Univali (Universidade do Vale do Itajaí).

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