Opinião

Brasil e China chegam a 2025 em uma nova era de cooperação estratégica

Autor

  • é advogado especialista em Direito Penal Econômico; mestre em Direito das Relações Internacionais Econômicas e doutor em Direito Comercial pela PUC/SP. É professor escritor e autor de livros. É presidente do Instituto Sociocultural Brasil/China (Ibrachina) e do Instituto Brasileiro de Ciências Jurídicas (IBCJ). É diretor do Centro de Estudos de Direito Econômico e Social (CEDES). É presidente da Coordenação Nacional das Relações Brasil/China (CNRBC) e da Comissão Especial Brasil/ONU de Integração Jurídica e Diplomacia Cidadã para implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CEBRAONU) ambos órgãos do Conselho Federal da OAB.

    Ver todos os posts

11 de dezembro de 2024, 13h15

Em 2024, as celebrações dos 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e China destacam o fortalecimento contínuo da parceria estratégica entre as duas nações, consolidada como uma das mais relevantes no cenário internacional. Um exemplo emblemático dessa cooperação é o Programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), firmado em 1988 para o desenvolvimento conjunto de satélites de observação terrestre.

Desde então, o programa, que completou 36 anos em 2024, já resultou na criação de seis satélites: CBERS-1 (1999), CBERS-2 (2003), CBERS-2B (2007), CBERS-3 (2013), CBERS-4 (2014) e CBERS-4A (2019). Esses equipamentos compõem um sistema completo de sensoriamento remoto, gerando imagens para aplicações em controle ambiental, agricultura, planejamento urbano e monitoramento de áreas terrestres.

O mais recente avanço foi o acordo para o desenvolvimento do CBERS-6, uma nova geração de satélites equipada com tecnologia 100% brasileira, como a Plataforma Multimissão (PMM), e um radar de abertura sintética chinês. Esse novo satélite ampliará a coleta de dados, inclusive em condições meteorológicas adversas, essenciais para regiões como a Amazônia, onde a cobertura de nuvens pode durar até seis meses por ano.

Futuro compartilhado

Além do avanço tecnológico, a recente assinatura de 37 novos acordos bilaterais pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, durante o G20 no Rio de Janeiro, reflete o compromisso mútuo em áreas estratégicas como economia, tecnologia, infraestrutura e cultura.

Esses acordos fortalecem o papel do Brasil como principal parceiro da China na América Latina e projetam um futuro de cooperação mais diversificado e benéfico para ambos os países. Essa nova etapa, pautada pela proposta de uma “Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil-China por um Mundo mais Justo e um Planeta mais Sustentável”, posiciona as duas nações como líderes na solução de desafios globais.

Spacca

Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com um volume de comércio bilateral de US$ 136,3 bilhões entre janeiro e outubro de 2024, segundo dados divulgados pelo governo brasileiro. Em 2023, o comércio atingiu um recorde histórico de US$ 157 bilhões, impulsionado principalmente por exportações de commodities como soja, minério de ferro e carne.

Contudo, para além das commodities, os novos acordos bilaterais priorizam a diversificação, com destaque para setores como biotecnologia, energias renováveis e tecnologia agrícola. O compromisso da China com a neutralidade de carbono até 2060 converge com o Plano de Transformação Ecológica do Brasil, abrindo caminhos para soluções sustentáveis e inovadoras.

Investidora significativa no Brasil, a China destinou mais de US$ 66 bilhões ao país desde 2007, com foco em infraestrutura, energia renovável e telecomunicações. Projetos recentes, como a modernização de portos e ferrovias, ilustram o impacto transformador dessa parceria na competitividade brasileira. No campo tecnológico, a expertise chinesa em áreas como 5G, inteligência artificial e mobilidade elétrica é uma oportunidade para o Brasil superar suas deficiências estruturais. Empresas como a BYD, referência em veículos elétricos e produção de painéis solares, exemplificam essa integração.

A dimensão cultural também desempenha um papel fundamental. Em 2024, o Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) promoveu eventos celebrando os 50 anos de relações diplomáticas, com iniciativas como cursos de mandarim, intercâmbios culturais e parcerias acadêmicas. Essa cooperação cultural será ampliada em 2026, com o Ano Cultural Brasil-China, reforçando os laços entre duas nações reconhecidas por sua diversidade e criatividade.

Por outro lado, desafios persistem. O Brasil precisa equilibrar a expansão agrícola com práticas ambientais mais sustentáveis, atendendo às exigências globais. As tensões geopolíticas, como a disputa comercial entre China e Estados Unidos, demandam uma diplomacia assertiva para proteger os interesses brasileiros. A realização do G20 em 2024 e da COP30 no Pará, em 2025, será uma oportunidade para ambos os países liderarem discussões sobre desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas, fortalecendo o papel central dessa parceria.

As relações Brasil-China vivem um momento de fortalecimento sem precedentes, mas o potencial para o futuro é ainda maior. Baseada no respeito mútuo e na busca por soluções globais, essa parceria tem o poder de transformar não apenas as economias, mas também as sociedades de ambos os países. Instituições como o Ibrachina continuarão a ser pilares na construção dessa ponte cultural e estratégica, fomentando uma colaboração que transcenda fronteiras e gerações.

Autores

  • é advogado, doutor em Direito Comercial pela PUC-SP, presidente do Instituto SocioCultural Brasil China (Ibrachina) e do Instituto Brasileiro de Ciências Jurídicas (IBCJ) e fundador do Ibrawork, hub de Open Innovation especializado em Smart Cities

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!