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Metade das juízas deixa ascensão profissional de lado em nome da família

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8 de março de 2023, 12h41

Quase metade das magistradas brasileiras (46,9%) deixa a ascensão profissional em segundo plano devido ao acúmulo de funções na família e no trabalho. Cerca de 74% já adiaram os estudos ou aperfeiçoamento em função de responsabilidades familiares. Aproximadamente 31% já recusaram promoções pelo impacto na vida pessoal.

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Maioria das juízas relatou casos de discriminação pelo fato de ser mulherFreepik

Além disso, mais da metade (54,7%) já sofreu algum tipo de constrangimento ou discriminação no trabalho pelo fato de ser mulher. Tal situação foi causada por homens em 38,2% desses casos; por outras mulheres em apenas 1% das ocorrências; e por ambos em 15,5% do total.

70,5% das magistradas afirmam que já foram interrompidas por um homem enquanto falavam. Quase 48% delas alegam que sua inteligência já foi subestimada, como se não fossem capazes de entender. 46,7% declaram que já foram rotuladas como agressivas quando, na percepção delas, estavam apenas sendo assertivas e seguras.

54% já ouviram homens contarem piadas sexistas em ambiente institucional. Por fim, 55% já tiveram a sensação de que precisavam trabalhar mais e melhor do que seus colegas para conquistar reconhecimento.

Os dados são de uma pesquisa inédita feita pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) em parceria com a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam).

O estudo traz o "Perfil das magistradas brasileiras e perspectivas rumo à equidade de gênero nos tribunais". Foram coletadas 1.451 respostas entre junho e agosto do último ano.

O levantamento também revelou que 48,7% das magistradas já foram alvo de alguma situação de preconceito ou discriminação não relacionada ao gênero no exercício da profissão. Os principais motivos são a idade jovem demais (68,3%); o sotaque ou a região de origem (13,9%); e o cabelo, o fenótipo ou o tom de pele (10,3%). 

Perfil
Conforme a pesquisa, a maioria das magistradas é casada (62,2%), branca (79,7%), católica (55,1%), tem filhos (77%), nasceu entre 1960 e 1979 (64,2%) e mora na região Sudeste e Sul (56,7%),

A maior parte delas ingressou na magistratura entre 2000 e 2019 (62,3%), atua nas áreas Civil ou Criminal (58,9%), está no primeiro grau de jurisdição (90%), tem a maior renda ou arca com a maior parte do sustento da família (62,5%), tem cursos de especialização e aperfeiçoamento (65,7%) e atuava na advocacia privada antes de se tornar juíza (50,7%).

O estudo da AMB e da Enfam é o primeiro no Brasil com informações específicas sobre magistradas. "Essa pesquisa é fruto de um esforço coletivo para, mediante dados e evidências estatísticas seguras, apontar caminhos rumo à adequada representatividade feminina, dando uma efetiva contribuição prática ao aprimoramento do Poder Judiciário", indica a coordenadora-geral, juíza Eunice Maria Batista Prado.

Na visão de Eunice, "é preciso aumentar mais rápido o número de magistradas que conseguem transpor o chamado teto de vidro, alcançar os níveis rumo ao topo da carreira e respirar o ar rarefeito das altas esferas do Poder Judiciário, que ainda são de ampla presença masculina, em descompasso com a maioria da população brasileira, que é de mulheres".

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