Cowgirl fora da lei

Após disparar na rua, policial militar amigo de Carla Zambelli paga fiança e é solto

Autor

30 de outubro de 2022, 12h13

O homem apontado como segurança da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), acusado de atirar no meio da rua durante confusão envolvendo a parlamentar e um jornalista negro, foi autuado em flagrante pelo delito de disparo de arma de fogo e liberado mediante o pagamento de fiança de R$ 1,3 mil. Zambelli portava uma pistola 9 milímetros e chegou a sacá-la, mas o delegado Sebastião Mariano Cavallaro, do 78º DP (Jardins), não vislumbrou crime por parte dela.

Reprodução
Deputada bolsonarista aponta arma na rua
Reprodução

A deputada apresentou a documentação referente à sua arma de fogo e ao seu porte legal. "Em que pese existir a Resolução 23.669/2021, que proíbe em seu artigo 154 e 154-A que seja carregado/ transportado arma de fogo a 100 metros da seção eleitoral, nas 48 horas que antecedem o pleito, no caso em comento não há nenhuma seção eleitoral próxima ao local", justificou Cavallaro. O incidente aconteceu na Alameda Lorena, área nobre de São Paulo, no sábado (29/10) à tarde.

Além do crime de disparo de arma de fogo (artigo 15 da Lei 10.826/2003 — Estatuto de Desarmamento), punível com reclusão de dois a quatro anos e multa, que foi imputado ao policial militar, Cavallaro deu à ocorrência as capitulações jurídicas de injúria (artigo 140 do Código Penal), ameaça (artigo 147 do CP) e lesão corporal (artigo 129 do CP), mencionando a deputada e o jornalista como "partes".

Devido ao foro por prerrogativa de função da deputada federal, o delegado assinalou que todas as peças do procedimento serão encaminhadas aos "órgãos competentes". Ainda conforme Cavallaro, a tipificação que deu ao episódio poderá receber posterior reenquadramento ou acréscimo, "sendo que com relação aos fatos, exceto o atrelado ao disparo de arma de fogo, serão posteriormente melhores (sic) esclarecidos".

Vídeo revelador
O policial militar autuado em flagrante afirmou que é "amigo" da deputada e que foi convidado por ela para almoçar em um restaurante. Ao saírem do estabelecimento, segundo ele, foram abordados na calçada por dois homens, um dos quais "moreno alto", que teria ofendido a parlamentar e manifestado ser simpatizante do candidato Lula. Os ânimos se acirraram e alguém por trás, que não pôde ver, empurrou a deputada, fazendo-a cair.

Essa versão, porém, é desmentida pelas imagens do incidente, que circularam fartamente pelas redes sociais. Está claro que a deputada não foi empurrada, ela tropeçou ao correr atrás do jornalista.

Ainda segundo o relato do policial, o disparo foi acidental, pois a arma teria disparado quando ele tropeçou e quase caiu no chão.

Segundo a versão do jornalista, 32, ele e um amigo saíram de uma hamburgueria quando ouviram uma pessoa gritar "aqui é Tarcísio" (candidato bolsonarista ao governo de São Paulo). Em seguida, ele respondeu "amanhã é Lula, vocês vão perder", iniciando-se a discussão com Zambelli e outras pessoas que a acompanhavam. Tais correligionários passaram a provocá-lo e a gravar o desentendimento com celulares.

Ao tentar se afastar do local, o jornalista foi perseguido pela parlamentar e outras pessoas, escutando um tiro enquanto corria. Luan acrescentou que levou chutes e socos, sendo ainda alvo de uma tentativa de rasteira dada por um homem e ficando na mira da pistola empunhada pela deputada, que dizia "deita no chão, deita no chão". Sentindo-se acuado, procurou se refugiar em uma lanchonete, mas Zambelli e as demais pessoas entraram no estabelecimento, onde os ânimos acabaram se acalmando.

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!