Olho nas urnas

Evento da Abrapel debate desafios das pesquisas eleitorais e perfil dos votantes

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17 de maio de 2022, 22h06

Após mais de 25 anos de uso da urna eletrônica, não há nenhum indício concreto de violação do processo eleitoral brasileiro e, consequentemente, nada para se duvidar quanto à higidez do pleito.

Divulgação
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Foi o que sustentou a ministra Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro, do Tribunal Superior Eleitoral, nesta terça-feira (17/5), durante o seminário internacional "Pesquisas Eleitorais: Desafios e metodologias na democracia contemporânea", da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel).

O evento ocorre em formato híbrido: parte de forma virtual e parte de forma presencial, no campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O canal da Abrapel no YouTube transmitirá todos os painéis, que vão até esta quinta-feira (19/5).

Boas-vindas
A presidente da Abrapel e professora da UFMG Mara Telles abriu o evento expondo os ataques de negacionistas às pesquisas eleitorais no país, sobretudo por meio de fake news.

Telles explicou que a associação busca desafiar o atual contexto de descrédito das pesquisas. Ela ressaltou a importância de pesquisas sérias para a sustentação da democracia representativa.

Abertura solene
Bucchianeri ficou responsável por demonstrar a segurança das urnas eletrônicas. A ministra indicou que os aparelhos não estão em rede e não possuem conexão com a internet. Ou seja, não é possível invadir uma urna eletrônica, pois isso "seria como invadir um liquidificador" ou qualquer outro aparelho elétrico.

A magistrada explicou que as urnas geram boletins, que nada mais são do que listas impressas dos votos, não individualizados. Os boletins de urna são mais tarde colados nas portas das seções eleitorais. Neste ano, passarão a ser disponibilizados também na internet.

Outro tema abordado por Bucchianeri foi a descrença da população na classe política e nos partidos como seus intermediadores. No entanto, a ministra destacou que a democracia representativa é um "instrumento único de legitimação do poder político e solução pacífica dos conflitos ideológicos".

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Conferência de abertura
Mário Riorda, presidente da Associação Latino-Americana de Investigadores em Campanhas Eleitorais (Alice) e da Universidad Austral, da Argentina, ofereceu uma palestra sobre as tendências do eleitor da América Latina.

Segundo ele, o continente sofre com sistemas partidários quebrados, o que proporciona vencedores oriundos de partidos não clássicos. Há ainda uma emoção descontrolada, fruto das crises sanitária e econômica. Com isso, a população demonstra incerteza, frustração, desespero e medo.

A maioria dos governos latino-americanos vem sofrendo com uma opinião pública deteriorada e quedas rápidas de aprovação logo após o início dos mandatos. Isso está aliado a uma forte distorção midiática, já que meios de comunicação são verdadeiros atores políticos parciais.

Riorda ainda lembrou as dificudades operacionais para produzir pesquisas eleitorais, especialmente o alto custo. Por fim, ressaltou que muitas sondagens adotam metodologias falhas, que ignoram níveis de educação ou a participação virtual dos eleitores.

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Painel de abertura
As tendências eleitorais e comportamentais captadas nas pesquisas brasileiras e europeias foram tema do primeiro painel do evento. A coordenação ficou a cargo de Silvana Krause, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e secretária-geral da Abrapel.

João Francisco Meira, diretor executivo do Instituto Vox Populi e presidente do conselho de opinião pública da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), abriu o painel comentando o comportamento do eleitor brasileiro e o que as pesquisas vêm dizendo.

De acordo com ele, há uma piora acelerada do humor do cidadão, que tem pouco otimismo, esperança e perspectiva de futuro. Desde 2019, cerca de três quartos do eleitorado acredita que o país está caminhando na direção errada.

Além disso, a maioria do eleitorado conhece basicamente apenas os dois principais candidatos das próximas eleições presidenciais (Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro). Os demais nomes, segundo Meira, são "pouco competitivos" na prática.

Georg Wink, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, abordou a nova direita brasileira e suas ideias e premissas.

A nova direita, muito associada à figura do presidente Jair Bolsonaro, tem suas raízes no integrismo religioso, que preza pela supremacia do poder espiritual e refuta qualquer mudança nos dogmas.

Para Wink, esse movimento político brasileiro é uma espécie de neointegrismo: tal como os integristas classificam qualquer oposição como heresia, a nova direita a classifica como comunismo.

Os seguidores desse movimento têm muita influência do filósofo Olavo de Carvalho, cuja obra dá continuidade à tradição integrista brasileira. Wink destacou a necessidade de se atentar ao catolicismo conservador neointegrista dentro da direita conservadora brasileira, que se associa também aos neopentecostais.

A última expositora do painel foi Letícia Ruiz, vice-reitora de pesquisa e doutorado da Faculdade de CCPP e Sociologia da Universidad Complutense de Madrid, na Espanha.

Ruiz explicou que as pesquisas eleitorais não buscam apenas prever quem vai ganhar uma eleição. Existem diversas outras preocupações, como as características do eleitorado e seus entornos, fatores sociodemográficos e "por que votamos como votamos".

Outros pontos explorados são as emoções dos eleitores com relação à política; por que os partidos tradicionais costumam se manter; como os partidos mudam internamente; como o sistema eleitoral afeta o voto útil; e até que ponto o sistema eleitoral incentiva o crescimento de candidatos extremistas. Algumas tendências mais atuais nas pesquisas eleitorais são a polarização e o perfil dos eleitores da extrema-direita.

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