Diretor da CIA alertou governo Bolsonaro sobre perigo de desacreditar eleição
5 de maio de 2022, 12h41
Um diretor da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, disse no ano passado a militares e pessoas próximas de Jair Bolsonaro que o presidente brasileiro não deveria desacreditar o processo eleitoral brasileiro. A notícia é da agência Reuters, que falou com duas pessoas sobre o ocorrido em condição de anonimato.
Ele se encontrou no Palácio do Planalto com o presidente e dois de seus conselheiros — o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, e Alexandre Ramagem, que então era chefe da Abin.
Burns também jantou na casa do embaixador dos Estados Unidos com Augusto Heleno e com o então ministro-chefe da Casa Civil Luiz Eduardo Ramos, dois generais. Historicamente, os militares brasileiros têm proximidade com a CIA e outros serviços de inteligência norte-americanos, que tiveram papel destacado na promoção do golpe que levou à ditadura civil-militar no país em 1964.
Segundo fontes ouvidas pela Reuters, no jantar, Heleno e Ramos tentaram minimizar o impacto das declarações de Bolsonaro atacando o sistema eleitoral do país. Em resposta, Burns teria dito a eles que o processo democrático é sagrado, e que Bolsonaro não deveria falar como tem falado.
"Burns estava deixando claro que as eleições não são um tópico com o qual eles devessem brincar", disse a fonte à Reuters. "Não foi uma palestra, foi uma conversa."
Não é comum, diz a Reuters, citando suas fontes, que diretores da CIA mandem recados políticos. Mas Biden deu uma espécie de carta branca a Burns para atuar como porta-voz informal do governo.
O tom do recado dado em julho foi reforçado quando, em agosto, o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos também visitou Bolsonaro e levantou preocupações semelhantes. Mas a reprimenda de Burns foi mais veemente, afirmou uma fonte da Reuters em Washington, que não quis entrar em mais detalhes.
À Reuters, um oficial do departamento de estado dos EUA afirmou que "é importante que os brasileiros tenham confiança em seu próprio sistema eleitoral". A CIA afirmou à agência que não iria se pronunciar sobre o assunto, e o governo Bolsonaro não respondeu ao pedido de comentário enviado.
No sábado, o ex-cônsul dos EUA no Rio de Janeiro Scott Hamilton engrossou o caldo ao escrever, em artigo, que os Estados Unidos deveriam deixar claro para Bolsonaro que qualquer tentativa de sabotar a eleição poderia ser o gatilho para sanções multilaterais (clique aqui para ler o artigo de Hamilton).
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