AMAM SE ODIAR

Hostilidades entre republicanos e democratas estão se agravando nos EUA

Autor

15 de agosto de 2022, 9h51

Um grupo de antigos assessores do ex-presidente Trump está desenvolvendo um aplicativo de relacionamento amoroso exclusivo para republicanos. O grupo anunciou em um vídeo, estrelado por Ryann McEnany, irmã da ex-secretária de Imprensa de Trump e atual comentarista da Fox News Kayleigh McEnany, que o aplicativo será lançado em setembro.

Sagearbor
Sagearbor/Wikimedia Commons  Republicanos e democratas são representados por um elefante e um burro

Razão da iniciativa: republicanos (conservadores) e democratas (liberais) se odeiam cada vez mais — um fenômeno que vem conturbando vidas familiares e o cenário político-eleitoral dos EUA. E que leva historiadores e cientistas políticos a temer por confrontos armados, segundo o Business Insider.

Uma pesquisa recente do Pew Research Center, em que 6.174 eleitores foram entrevistados (normalmente são entrevistadas cerca de mil pessoas), explica, em boa parte, esse fenômeno.

A pesquisa indica que as hostilidades entre republicanos e democratas estão se agravando progressivamente no país desde 2016, quando Donald Trump foi eleito presidente depois de perder o voto popular, mas ganhar mais delegados para o Colégio Eleitoral.

Nessa pesquisa, entrevistados republicanos e democratas explicaram por que não se suportam mais. Declararam que os eleitores do “outro partido” são cabeças-duras (closed-minded — ou, literalmente, mentes fechadas), desonestos, imorais, ignorantes e preguiçosos.

Uma pesquisa anterior da organização YouGovAmerica dá uma ideia ainda mais tenebrosa da situação: quase metade das famílias republicanas e democratas do país não aceita que seus filhos se casem com "elementos do outro partido" — aliás, nem mesmo namorem. Nenhum casamento bipartidário sobrevive nesse clima, acreditam.

Nesse contexto, 27% de todos os eleitores (republicanos, democratas e principalmente independentes) pensam que a culpa desse racha na população é do bipartidarismo — o fator natural da polarização partidária. E essa polarização não abre espaço para o crescimento de outros partidos.

Resultado da pesquisa do Pew Reseach Center em percentagens:

Cabeças-duras
Para republicanos, é o que democratas são: em 2016, 52%; em 2022, 69%.

Para democratas, é o que republicanos são: em 2016, 70%; em 2022, 83%

Desonestos
Para republicanos, é o que democratas são: em 2016, 45%; em 2022, 72%.

Para democratas, é o que republicanos são: em 2016, 42%; em 2022, 54%

Imorais
Para republicanos, é o que democratas são: em 2016, 47%; em 2022, 72%.

Para democratas, é o que republicanos são: em 2016, 35%; em 2022, 63%

Ignorantes
Para republicanos, é o que democratas são: em 2016, 32%; em 2022, 51%.

Para democratas, é o que republicanos são: em 2016, 33%; em 2022, 52%

Preguiçosos
Para republicanos, é o que democratas são: em 2016, 46%; em 2022, 62%.

Para democratas, é o que republicanos são: em 2016, 18%; em 2022, 26%

Têm 4 ou mais dessas características
Para republicanos, é o que democratas são: em 2016, 30%; em 2022, 53%.

Para democratas, é o que republicanos são: em 2016, 22%; em 2022, 43%

Na pesquisa, muitos entrevistados se declararam insatisfeitos com republicanos e democratas e afirmaram que gostariam que houvesse mais partidos. Mas, na verdade, existem mais de 420 partidos políticos registrados nos EUA.

Obviamente, a maior parte deles só existe no papel, praticamente. Há apenas três partidos — Partido Verde, Partido Libertário e Partido Constituição — que tiram uma percentagem de 3% a 5% dos votos dos dois partidos predominantes, mas não conseguem crescer.

O que existe realmente, em grande escala, são três grupos políticos, que são considerados nas pesquisas de voto (e outras tantas) e que ocupam alguns cargos eletivos: democratas, republicanos e independentes. Em percentagem, cada grupo representa, mais ou menos, um terço dos eleitores.

Nas eleições (e só nas eleições), os independentes são os mais poderosos. Afinal, eles as decidem. Sempre que se fala sobre eleitores independentes, se faz a distinção entre os eleitores que tendem a favor dos democratas e o que tendem a favor dos republicanos. Mas, na verdade, a maioria deles só sai de cima do muro às vésperas das eleições, quando observam para que lado o vento está soprando.

Outra característica do sistema eleitoral dos EUA é a de que os eleitores podem se filiar oficialmente a um partido ao fazer o registro eleitoral. A maioria dos americanos faz isso, em parte por causa do impacto positivo ou negativo que cada partido pode exercer em suas vidas. E, em grande parte, porque gostam de votar nas eleições primárias de seus partidos, o que só é possível para eleitores com o nome do partido no título eleitoral.

O sistema eleitoral americano não é bem-visto quando comparado ao de outras democracias. Não tem eleições diretas para presidente (é por Colégio Eleitoral — e o candidato que vence pelo voto popular perde as eleições para o que fez mais delegados para o Colégio Eleitoral); não tem eleições em dois turnos (para presidente, governador, etc.) para dar oportunidade a partidos menores de aparecerem; tem voto distrital para a Câmara dos Deputados, que é seriamente corrompido pela elaboração de mapas distritais pelo partido que tem maioria em uma assembleia legislativa, etc.

Mas a eleição primária, que dá ao eleitor a oportunidade de escolher o nome de sua preferência para ser o candidato do partido em eleições para diversos cargos eletivos (em vez de ser escolha dos políticos do partido), é um ponto alto.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!