Farra lavajatista

"Quanto mais gastarmos agora, melhor", disse Deltan em conversa sobre diárias

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10 de agosto de 2022, 17h31

A controvérsia em torno dos vultosos gastos com diárias do Ministério Público Federal no âmbito da "lava jato", que levou o TCU a condenar nesta terça-feira (9/8) o ex-procurador Deltan Dallagnol, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e o procurador João Vicente Beraldo Romão, é antiga.

José Cruz/Agência Brasil
Em chat da "vaza jato", Deltan conclamou os colegas a gastarem toda verba das diárias
José Cruz/Agência Brasil

Deltan e sua equipe sempre alegaram que os gastos eram legítimos e absolutamente necessários, mas os diálogos tornados públicos pela "vaza jato" mostram que não era bem assim. Em dezembro de 2017, por exemplo, o então chefe da "lava jato" convocou seu grupo de trabalho para gastar o máximo possível com diárias.

Veja abaixo a transcrição literal da conversa: 

7 de dezembro de 2017 – Grupo Filhos do Januario 2

Deltan Dallagnol — 20:17:16 — "Caros, precisamos que indiquem voos para 2018 para consumir valores de passagens (e diárias). Quanto mais gastarmos agora, melhor. Pensei se Isabel, Welter, Januário, CF e Orlando, especialmente, não conseguem indicar vôos para alguns meses do ano que vem…"

Dallagnol — 20:17:16 — "Dr Deltan, Recebemos mensagem do gabinete da Procuradora-Chefe informando que a CVE verificou que a FT ainda tem R$ 108.032,09 de saldo disponível para diárias e passagens. Considerando que esse saldo poderia ser utilizado apenas em diárias e passagens para o ano de 2017 e passagens para o ano de 2018 questionam quanto ainda poderíamos utilizar para informar se haverá devolução ou não de recursos"

Jerusa Viecili — 20:18:54 — "poxa! sobrando tudo isso?"

Carlos Fernando dos Santos Lima — 20:19:42 — "https://www.oantagonista.com/brasil/kadafi-investiu-us-1-milhao-na-candidatura-de-lula-diz-palocci/"

Santos Lima — 20:20:02 — "Estou vendo minhas passagens para Janeiro e fevereiro. Seria ideal que todos pedissem."

Outro exemplo: em março de 2021, o site The Intercept Brasil publicou a informação de que o procurador da República Diogo Castor de Mattos recebeu pelo menos R$ 373,6 mil em diárias para atuar na "lava jato" em Curitiba, cidade em que morava.

Castor recebeu 425 diárias entre 2014 e 2019, período em que atuou na autodenominada força-tarefa, segundo relatório que a Procuradoria-Geral da República enviou ao Tribunal de Contas da União.

Ele justificou os adicionais por ter deixado sua casa em Jacarezinho, no norte do Paraná, a 386 quilômetros da capital, para trabalhar em Curitiba. Com as diárias, o salário mensal do procurador, de R$ 25 mil, recebeu acréscimo de até R$ 11 mil por mês.

As mensagens divulgadas pela "vaza jato" e apreendidas no curso da chamada operação "spoofing", porém, desmentiram essa versão.

Em mensagem de 5 de dezembro de 2018 em um grupo no Telegram, Castor convida seus colegas para um "churras" em sua casa: "Pessoal, happy hour de encerramento do ano na casa do Castor, rua julia wanderley, [suprimido]".

Dos R$ 3,25 milhões gastos com o deslocamento e estadia dos procuradores, R$ 2,77 milhões (85%) foram destinados a viagens do domicílio oficial de cada um para Curitiba.

Fora da lista
Deltan, que foi condenado pela 2ª Câmara Ordinária do Tribunal de Contas da União a restituir aos cofres públicos R$ 2,8 milhões (valor atualizado) gastos com diárias e passagens de membros da finada "lava jato", não foi incluído na lista de pessoas com contas julgadas irregulares enviada pelo TCU ao TSE. 

Isso ocorreu porque Deltan ainda tem um recurso pendente de julgamento. O ex-procurador pretende disputar o cargo de deputado federal pelo Podemos do Paraná.  O relator do processo que condenou Deltan, ministro Bruno Dantas, já havia deixado claro que a pessoa só terá seu nome incluído na lista do TCU após decisão transitada em julgado. 

Além de Deltan, a 2ª Câmara Ordinária do Tribunal de Contas da União condenou o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e o procurador João Vicente Beraldo Romão a restituir aos cofres públicos R$ 2,8 milhões (valor atualizado) gastos com diárias e passagens de membros da "lava jato".

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