Pragmatismo e conhecimento prático em William James
26 de janeiro de 2014, 7h00
Viveu muitos anos atormentado pela ansiedade e pela depressão. Lecionou fisiologia, psicologia e filosofia, sempre em Harvard, além de ter feito várias palestras em Boston. James começou a sofrer do coração em 1898, morrendo em 1910. Quadros depressivos eram recorrentes na família de William James. É talvez esse pano de fundo que tanto tenha colaborado na formação de William James, como fino observador da alma humana.
William James reputava a filosofia como “a mais sublime e a mais trivial das empreitadas humanas”. Admitindo a inserção do pensamento filosófico em todos os campos da experiência, James afirmou que a filosofia “opera nas brechas mais estreitas e se abre para os mais vastos horizontes”.
Realista, ponderou que a filosofia “não enche barriga (…) mas pode inspirar nossas almas com coragem”. Na impressão de William James, necessitamos da filosofia na medida em que “repelente como suas maneiras, suas dúvidas e desafios, seus sofismas e dialéticas frequentemente o são para gente comum, nenhum de nós pode prosseguir sem a luz longínqua que espraia pelas perspectivas do mundo”. Em tom apocalíptico acrescentou que “esses clarões, pelo menos, e os efeitos contrastantes de mistério e escuridão que os acompanham, emprestam ao que diz um interesse que é muito mais do que profissional”.
A filosofia procura verdades ou pelo menos tenta explicar porque está atrás dessas supostas exatidões e realidades. A solução que James pretendia oferecer é uma “coisa singularmente chamada de pragmatismo como uma filosofia que pode satisfazer a ambas as espécies de procuras”. Espremido entre as tradições do racionalismo e do empirismo, da teologia ortodoxa e do ceticismo que remonta à tradição aporética inglesa, cuja linhagem radica em Hume, essa filosofia pragmática “pode permanecer religiosa como os racionalismos, mas, ao mesmo tempo, como os empirismos, pode preservar a intimidade mais rica dos fatos”.
O pragmatismo sugere um método. Para o pensador norte-americano, “o método pragmático é, primariamente, um método de assentar disputas metafísicas que, de outro modo, se estenderiam interminavelmente”. E James em seguida moteja de questões metafísicas, que oxigenam discussões intermináveis e improdutivas. Assim, “é o mundo um ou muitos? — predestinado ou livre? — material ou espiritual? — eis aqui noções, quaisquer das quais podem ou não ser verdadeiras para o mundo; e as disputadas em relação a tais noções são intermináveis”.
James preocupou-se com o resultado fático e com a prestabilidade concreta dos problemas com os quais a filosofia lida. E de tal modo, o “método pragmático nesses casos é tentar interpretar cada noção traçando as suas consequências práticas respectivas”. O sentido de consequência prática é o eixo sobre o qual se orienta o modelo pragmático e a própria cultura norte-americana, de modo mais amplo, e de forma mais específica no que tange ao realismo jurídico. Por isso, “que diferença prática haveria para alguém se essa noção, de preferência àquela outra, fosse verdadeira?”.
William James questionou e preocupou-se com aspectos concretos e realistas das pesquisas científicas e da indagação filosófica e nessa postura tem-se o núcleo do pensamento pragmático. Era recorrente sua indignação em relação à metafísica e à discussão estéril, Segundo James, “é espantoso de ver-se quantas e quantas disputas filosóficas dão em nada no momento em que as submetemos ao simples teste de traçar uma consequência concreta”. O referido teste de consequência concreta é o referencial mais comum do pragmatismo, que a toda reflexão antepõe questão aparentemente ingênua, mas de realidade eloquente, perguntando-se para quê?
O pragmatismo, segundo James, é marca do pensamento ocidental há muito tempo. Estaria em Sócrates, em Aristóteles (que o teria aplicado metodicamente), em Locke, em Berkeley e em Hume, que mediante o uso do modelo pragmático teriam, de acordo com James, propiciado incomensuráveis contribuições à causa da verdade.
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