Os livros da vida do advogado Alexandre de Moraes
8 de setembro de 2010, 11h20
O advogado constitucionalista Alexandre de Moraes é um leitor voraz — daqueles que leem mais de um livro ao mesmo tempo. Quando fala de obras, se empolga e costuma ter o pensamento rápido. Percebe-se logo o prazer que o assunto lhe causa. Mas, diferentemente do clichê relacionado às pessoas que leem tudo aquilo que lhe cai nas mãos, ele não lê bula de remédio. “Bula de remédio eu me recuso a ler. Minha mulher até briga comigo, porque ela tem o hábito. Eu jogo a bula e a caixa fora. Meus irmãos são médicos. Eu sempre falo a eles: Vocês têm de saber aquilo que estão receitando. E brinco: Se forem presos ou processados, vão abrir um Código ou me ligar? Então, cada um na sua área”, comenta.
Da biblioteca de 6 mil livros, o advogado garante que já leu todos, mesmo aqueles que são “chatos”. Ainda que a história não seja das mais interessantes, ele afirma que faz questão de chegar ao fim. Dos seus temas prediletos — história, política e biografias —, ele lê várias versões ou edições sobre o mesmo assunto. A ideia é comparar a forma como os fatos são descritos por cada autor. “Biografias de Alexandre, o Grande, por exemplo, acho que já li todas que saíram no Brasil. Gosto muito do estilo de um dos autores, Claude Mossé, que acabei conhecendo por conta da biografia. Recentemente, li um livro dele chamado Péricles, o Inventor da Democracia, que é muito bom. Mas do Alexandre tem outra obra que gosto muito, escrita por Mássimo Ferrari. Outra história que admiro bastante é de Júlio César. Tem um livro chamado Júlio César, o Imperador, escrito por Max Gallo”, conta. Para ele, essas biografias são interessantes porque sempre mostram a visão do personagem e a questão jurídica e política dos acontecimentos da época em que ocorreram.
Além de ser naturalmente influenciado pela trajetória de vida dos líderes que admira e das leituras sobre essas pessoas, Moraes conta que A Política, de Aristóteles, também teve um papel fundamental em sua vida, inclusive, direcionando sua especialização em Direito para a área constitucional. “Aristóteles foi o perceptor de Alexandre, o Grande. Sempre que conquistava alguma cidade, Alexandre enviava animais, insetos e vegetais para Aristóteles pesquisar. Com base nisso e em outras informações, ele fez uma planilha daquilo que as cidades tinham em comum e foi criando alguns princípios básicos de organização”, explica.
De acordo como advogado, a leitura é algo que ocorre naturalmente em sua vida, por prazer. Por esse motivo, não tem uma disciplina ou rotina definida em relação ao tempo ou período que dedica aos livros. Ele conta que muitas vezes começa a ler algo e, quando percebe, já passou horas. “Constantemente acontece isso, porque acabo me concentrando totalmente naquilo. Geralmente leio à noite, depois do jantar, e só paro quando percebo que está muito tarde. Se não fosse assim, se tivesse de colocar um horário definido só para isso ou coisa do tipo, não seria prazeroso. Eu não passo dois dias sem ler alguma coisa. Além disso, ao mesmo tempo em que estou lendo vou anotando algumas ideias que surgem em um bloco de anotações que sempre está comigo. Acredito que esse processo acaba estimulando o cérebro a ter mais ideias e também dá mais vontade ainda de ler outras coisas, para conhecer cada vez mais sobre um série de assuntos”, afirma Moraes.
Ainda que se autointitule como leitor compulsivo — ou talvez justamente por esse motivo —, o advogado não mostra muita empolgação ao falar sobre o livro eletrônico. Para ele, o digital não vai substituir as obras de papel. No entanto, deverá ganhar mais espaço quando a tecnologia se tornar mais acessível e as questões ligadas aos direitos autorias forem sanadas. “Se o digital for barato, acredito que pode até equiparar ao papel. A questão da leitura é educacional, não necessariamente do suporte ou do acesso que as pessoas têm. No Brasil, não há o hábito da leitura. As pessoas leem muito pouco. Acredito ainda que a internet empobrece um pouco a intelectualidade porque ela não consegue aprofundar determinados assuntos. Fica muito na questão da imagem. É tudo muito rápido na tela. Eu incentivo muito meus filhos a lerem, mas é impossível eles ficarem mais tempo com um livro do que na internet”, comenta.
Primeiro livro
Literatura
Livro Jurídico
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