Quem são os jornalistas perseguidos por Protógenes
6 de abril de 2009, 17h33
Pelo menos 25 jornalistas de renome, que atuam em grandes veículos de comunicação, foram acusados pelo delegado federal Protógenes Queiroz de fazer parte de um esquema conspiratório a favor do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, investigado pela Polícia Federal por supostos crimes financeiros, na chamada Operação Satiagraha. Os nomes de jornalistas constam de dois arquivos, dentre as centenas de documentos digitais confiscados pela Corregedoria da PF nos computadores de Queiroz, e são publicados pela revista Consultor Jurídico.
No relatório, o delegado parte da premissa de que o banqueiro Daniel Dantas armou um esquema para corromper jornais, revistas e jornalistas em geral para que todos trabalhassem a favor de seus objetivos escusos. A partir dessa suposição, toda ação que envolva o investigado que Protógenes transformou em inimigo pessoal, passa a ser suspeita. Nessa linha de raciocínio, jornalistas que por dever de ofício tenham de produzir notícias sobre Daniel Dantas ou sobre o Banco Opportunity, viram cúmplices do banqueiro.
Com pretensões intelectuais, o delegado se atreve a montar um case para demonstrar a malignidade da imprensa e da liberdade de expressão. Para tanto, toma como exemplo a cobertura que a revista Veja fez do presidente do Senado Renan Calheiros. Só nessa diversão aparecem os nomes de cinco jornalistas. São eles Policarpo Junior, Otávio Cabral, André Petry, Alexandre Oltramari e Diego Escosteguy. O relatório ressalva, para alívio geral, que os citados nessa parte do documento, não necessariamente estão ligados ao esquema de imprensa do banqueiro, já que se trata de um estudo teórico.
Alexandre Oltramari é citado de novo na parte do relatório dedicada a descrever a imaginada cadeia de contra-informação armada por Daniel Dantas e a grande imprensa brasileira e estrangeira. Aí aparece ao lado de seu colega, o colunista Diogo Mainardi, do presidente da Rede Bandeirantes Johnny Saad, do apresentador de televisão Roberto d’Ávila, do consultor político Ney Figueiredo e da empresa de assessoria de imprensa contratada pelo Opportunity, a Abre de Página.
Este Consultor Jurídico também mereceu a atenção do delegado Protógenes, em razão de entrevista feita pelo jornalista Márcio Chaer com Luciane Araújo, uma brasileira que trabalhou para a Telecom Italia como tradutora. Cabia a ela traduzir para o italiano, documentos e textos em português sobre a disputa pelo controle da Brasil Telecom entre a Telecom Italia e o Opportunity. Com acesso à alta cúpula da Telecom Italia, Luciane Araújo acabou tomando conhecimento de fatos na briga nada civilizada travada entre os dois grupos.
Um exemplo dos parâmetros de investigação do delegado e sua turma forma um capítulo no relatório com o sugestivo título de “A Turma do Cebolinha”. Foi com esse nome que o delegado Protógenes Queiroz batizou o arquivo em que descreve a bisbilhotagem que agentes da Abin, sob seu comando, fizeram, em Brasília, contra a arquiteta Manuela Cantanhêde Rampazzo,
Manuela Rampazzo é filha da colunista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde, com o também jornalista Gilney Rampazzo, ex-editor da TV Globo em Brasília. Manuela virou vítima da operação simplesmente por ter ido à casa do jornalista Fernando Cesar Mesquita, assessor do senador José Sarney, para submeter-lhe um projeto de arquitetura. Fernando César Mesquita não era investigado na Satiagraha e não havia determinação judicial para que fosse monitorado. Manuela Cantanhêde, muito menos.
Oito gigas de provas
O delegado corregedor Amaro Vieira Ferreira, que investiga o vazamento de informações e outras supostas irregularidades da Operação Satiagraha, dispõe de oito gigabytes de arquivos apreendidos em computadores e em pen drives nos endereços usados pelo delegado em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O material, agora, é usado como prova de que Protógenes feriu a lei de interceptações telefônicas e violou direitos profissionais de advogados, entre outras irregularidades.
Dentre os nomes dos jornalistas acusados no delírio conspiratório constam profissionais que simplesmente são pautados para cobrir as pendengas que envolvem a partilha do bolo das teles no Brasil. A análise desses arquivos de Protógenes revela a prática daquilo a que os filósofos chamam de teleologia — ou raciocínio baseado em causas finais.
Bastava algum profissional abordar o tema Daniel Dantas para que fosse catalogado como “parte do esquema”. Um dos primeiros nomes citados em seu relatório é o da repórter especial Elvira Lobato, da Folha de S. Paulo, uma profissional com mais de 30 anos de experiência, ganhadora do Prêmio Esso de Jornalismo 2008, a mais importante láurea da área de comunicação do país. Elvira é qualificada pelo delegado como liberticida. “É possível concluir que Elvira Lobato estaria trabalhando para apontar Naji Nahas como agente a serviço da Telecom Italia no Brasil. Notícias desta natureza interessam a Daniel Dantas, pois o colocam na condição de vítima de um esquema para prejudicar seus negócios. Muito provavelmente, Lobato seja uma das jornalistas de confiança de Dantas para implantar, na mídia, tais reportagens”.
Assim como Elvira, surgem nas acusações conspiratórias outros tantos nomes de profissionais de prestígio reconhecido e reputação inatacável como Marcelo Tognozzi, Vera Brandimarte, Leonardo Attuch, Gustavo Krieger, Janaína Leite e Diogo Mainardi . “Em cada reportagem, a intenção desta análise era conhecer o viés empregado para manipular os leitores, ora de forma explícita, ora sutil, com o fim de formar uma consciência coletiva. Ressalta-se que o público alvo das matérias era composto por pessoas esclarecidas, que buscam informação em meios considerados idôneos”, escreveu Protógenes, por exemplo, sobre a semanal Veja.
Em sua própria avaliação, Protógenes acreditava-se o rompedor de um tabu. “Finalmente, convém dizer que a proposta inicial da análise – identificar a manipulação da mídia por grupos econômicos – foi alcançada. Pelas limitações do trabalho e em face da magnitude do tema, muitos elementos, naturalmente, não constam em seu conteúdo, mesmo porque nunca houve a pretensão de abarcar toda a problemática envolvida nesta questão. A proposta era a de oferecer uma modesta contribuição para o esclarecimento deste tema, tão pouco debatido em nossa sociedade, principalmente em razão do caráter “sagrado” da liberdade de imprensa”, escreveu.
Um dos piores trechos das linhas obradas por Protógenes e sua equipe é um relatório datado de 28 de abril de 2008. Nele, um perito da PF, Walter Guerra Silva, acusa categoricamente dois jornalistas da Folha de S. Paulo, Andréa Michael e Hudson Correa, de trabalharem para Daniel Dantas. Foi esse relato que levou Protógenes a pedir a prisão de Michael, pelo fato de ela ter noticiado, em primeira mão, a existência da Operação Satiagraha.
“Em 17/03/08, às 14:50:52hs, Guilherme Martins fala com Daniel Dantas que Andrea Michael da Folha de S. Paulo, esta atrás dele para fazer uma matéria por encomenda. A Folha está querendo saber da desenvoltura de Daniel e quem o está ajudando, e o que ele irá fazer com o dinheiro que irá receber. Daniel brinca e diz que vai usar o dinheiro para comprar ações da Telemar”, relata o perito. “Portanto os investigados se beneficiaram da informação privilegiada antes da publicação realizada no jornal Folha de São Paulo”, conclui o perito do delegado Queiroz.
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